Por mais que franquias de terror costumem apostar em sequências cada vez mais sangrentas, nem sempre é o excesso de violência que sustenta o medo. Telefone Preto 2 surge alguns anos após os eventos do primeiro filme e explora profundamente as consequências emocionais deixadas pelo vilão.
É nesse novo contexto que o inimigo retorna de maneira diferente do que o público espera, e é exatamente aí que o filme quebra uma das estruturas mais tradicionais dos slashers.
Uma virada surpreendente no gênero
Mesmo morto, o Grabber volta com força total. Agora como uma entidade espiritual, ele persegue Gwen por meio de sonhos, atacando como uma versão sobrenatural de um clássico vilão dos anos 80.
Enquanto Finny tenta lidar com seu passado, Gwen começa a ter visões de três garotos desaparecidos em um acampamento de inverno chamado Alpine Lake. São essas aparições que revelam que o Grabber teve outros crimes muito antes dos mostrados no primeiro filme.
Ao invés de agir apenas no mundo real, o vilão ganha liberdade para invadir a mente das vítimas, tornando a ameaça mais imprevisível. O filme alterna entre pesadelos intensos e investigações no acampamento, onde a dupla busca os corpos dos garotos na esperança de encerrar de vez o ciclo de violência.
A presença do Grabber é constante, mas sua forma de atacar é diferente de qualquer outro momento da franquia, e é justamente aqui que o longa faz algo inusitado: apesar do clima de horror, nenhum personagem do presente morre. Todo o sangue derramado pertence ao passado e, para um slasher, isso é praticamente inédito.
Um slasher sem mortes atuais
Slashers são conhecidos por seus altos números de vítimas. Michael Myers, Jason Voorhees, Ghostface, todos se tornaram ícones por causa do rastro de corpos que deixaram. Telefone Preto 2 não faz isso. O filme até mostra mortes, mas apenas em flashbacks.
Descobrimos que o Grabber trabalhava no acampamento Alpine Lake e assassinou os três garotos que aparecem nas visões de Gwen. Além disso, há a revelação de que a mãe de Finny e Gwen também foi assassinada pelo Grabber, mas sua morte foi encoberta como suicídio. Esse passado trágico aumenta a gravidade da história sem precisar recorrer a novos assassinatos.
O mais impressionante é que, mesmo sem mortes atuais, a tensão permanece alta. A ameaça é construída de forma psicológica e emocional. Cada aparição do Grabber é carregada de perigo real, pois ele consegue machucar no mundo dos sonhos e quase atravessa a barreira entre os planos.
Em um gênero que frequentemente tenta superar o anterior com mais violência, escolher reduzir o “body count” é uma decisão ousada. Em vez de crescer pela quantidade, cresce pela profundidade. Scott Derrickson e C. Robert Cargill já haviam experimentado algo parecido em A Entidade, onde a maior parte das mortes acontecia em fitas antigas. Aqui, eles refinam a proposta
Um novo caminho para o terror slasher
Telefone Preto 2 mostra que ainda há espaço para inovação dentro de um dos subgêneros mais tradicionais do horror. A ausência de mortes presentes reforça o impacto da história sem comprometer o suspense.
Essa escolha também abre possibilidades para o futuro. Se um terceiro filme acontecer, o vilão ainda pode evoluir sem que a franquia esgote seus recursos. Ao preservar personagens e investir em desenvolvimento emocional, a história prepara terreno para conflitos mais complexos.
Ao transformar o terror em consequência, o filme abre caminho para novas abordagens dentro do horror e deixa claro que originalidade pode ser mais assustadora do que qualquer faca em cena.