
A trajetória do Superman no cinema é marcada por altos e baixos, mesmo sendo o super-herói mais icônico da cultura pop. Desde os tempos de Christopher Reeve até a abordagem sombria de Henry Cavill, o personagem passou por reformulações constantes em busca de relevância diante de um público cada vez mais exigente.
Agora, com James Gunn à frente do novo universo da DC, a aposta é combinar nostalgia e modernização para tornar o herói, dessa vez vivido por David Corenswet, novamente cativante.
Parte dessa tentativa envolve algo que por décadas foi motivo de piada entre os fãs: os óculos de Clark Kent. O disfarce sempre foi visto como pouco crível, e muitas adaptações ignoraram completamente essa fragilidade narrativa.
No entanto, o novo filme da DC Studios quer encarar de frente essa incoerência e propor uma solução inspirada nos próprios quadrinhos.
A identidade secreta mais visível dos quadrinhos
Ao contrário da maioria dos super-heróis, Superman não usa máscara. Sua identidade secreta depende apenas de um par de óculos e de uma postura desajeitada, o que sempre exigiu uma boa dose de suspensão de descrença por parte do público. Essa abordagem foi pensada nos anos 1930 e inspirada em personagens do cinema mudo, como Harold Lloyd, mas pouco evoluiu desde então.
James Gunn, no entanto, decidiu retomar esse aspecto clássico e torná-lo crível dentro do universo que está construindo. Em entrevistas, o diretor explicou que se incomodava com a ideia de que ninguém reconheceria Clark como Superman só por causa dos óculos. A solução encontrada foi resgatar um recurso antigo dos quadrinhos: a hipnose.
A chamada “super-hipnose” foi introduzida nas HQs em 1940 e retomada em 1978, no auge da popularidade do personagem. A técnica consiste em fazer com que o olhar de Clark, amplificado pelos óculos, induza as pessoas a perceberem-no de forma diferente. Assim, mesmo diante de uma semelhança física evidente, o cérebro das pessoas enxergaria dois indivíduos distintos.
James Gunn quer equilibrar o clássico com o moderno
Além da hipnose, o novo Clark Kent também contará com diferenças visuais mais marcantes. O penteado será diferente daquele usado por Superman, e a linguagem corporal do personagem será adaptada para reforçar essa separação entre as duas identidades. Essas decisões seguem a linha adotada por Christopher Reeve, cuja performance como Clark era deliberadamente caricata, em contraste com a imponência do herói.
Já nas versões mais recentes, como a de Henry Cavill, essa distinção foi pouco trabalhada. O personagem era praticamente o mesmo, com ou sem óculos, o que tornava difícil acreditar que ninguém ao redor percebesse a verdade. Gunn quer evitar esse problema e, ao mesmo tempo, não perder a leveza que pretende trazer ao universo compartilhado da DC.
O novo longa também não tem vergonha de abraçar elementos mais lúdicos do personagem. A presença do cachorro Krypto e de robôs na Fortaleza da Solidão são indicativos de que a fantasia terá um papel importante nesse novo capítulo da franquia. A proposta é fazer com que o público compre a ideia de um mundo em que tudo isso faz sentido, inclusive óculos hipnóticos.
A explicação para o disfarce de Clark, portanto, não surge como uma justificativa isolada, mas como parte de um todo maior. Se existem alienígenas, robôs e animais superpoderosos naquele mundo, faz sentido que existam óculos capazes de manipular a percepção humana. O segredo está na coerência interna do universo.
Outro detalhe importante é o posicionamento de Corenswet em relação ao visual clássico do personagem. O ator defendeu o uso da cueca vermelha por cima do uniforme como uma forma de tornar o herói mais acessível às crianças, sugerindo que o filme pretende abraçar todas as gerações.
Mesmo com todos os elementos fantásticos que envolvem o personagem, a nova produção parece determinada a resgatar o encanto do Superman sem cair no ridículo. Ao tratar com seriedade aquilo que por décadas foi motivo de piada, Gunn oferece ao público a chance de se reconectar com um dos maiores ícones dos quadrinhos.