O universo cinematográfico da Marvel passou por uma transformação drástica nos últimos anos. O que antes parecia um plano infalível de bilheteria e engajamento global, hoje vive uma fase de incertezas e questionamentos.
A queda de qualidade percebida por muitos fãs e a dificuldade em manter a relevância dos lançamentos recentes colocaram a franquia em uma encruzilhada. Com os filmes tendo cada vez menos audiência, e um número considerável de críticas negativas, o futuro da franquia começa a ficar estremecido.
Enquanto isso, os diretores Joe e Anthony Russo, que comandaram os dois últimos filmes dos Vingadores, retornam à franquia em meio a essa crise. Com a promessa de dirigir os próximos grandes eventos da Marvel, Vingadores: Doomsday e Vingadores: Guerras Secretas, os irmãos voltam à cena em um momento em que seu próprio prestígio está sendo posto à prova.
O fracasso de The Electric State levanta um alerta
A principal preocupação em torno do retorno dos Russo envolve justamente seus projetos mais recentes fora da Marvel. The Electric State, lançado na Netflix em 14 de março, é um exemplo claro disso. Com um orçamento astronômico de 320 milhões de dólares, o filme foi amplamente criticado por sua fórmula desgastada, atuações mecânicas e escolhas criativas duvidosas.
Críticos apontaram que o longa se apoia em clichês e não aproveita o potencial do material original, o livro ilustrado de Simon Stålenhag. Comparações negativas com outras obras do gênero, como Jogador Nº 1, e a utilização de recursos visuais pouco inspirados, minaram ainda mais a recepção do público.
The Electric State não é um caso isolado na trajetória recente dos diretores. Cherry, lançado pela Apple TV+, e Citadel, série da Amazon Prime Video, também enfrentaram críticas pesadas. Assim como o filme da Netflix, essas produções contaram com altos investimentos e entregaram resultados abaixo do esperado, tanto em qualidade quanto em retorno de público.
A repetição de problemas técnicos, como efeitos visuais questionáveis e roteiros pouco inspirados, contribuiu para uma percepção negativa do trabalho dos Russo fora da Marvel. Isso levanta dúvidas sobre a real contribuição da dupla nos sucessos anteriores do MCU, especialmente quando considerados os inúmeros talentos que colaboraram na chamada Saga do Infinito.
A Marvel já não é mais a mesma
Desde o fim da Saga do Infinito, o MCU tem sofrido com uma narrativa dispersa e falta de coesão entre os projetos. A quantidade de lançamentos, especialmente entre filmes e séries do Disney+, gerou uma saturação perceptível. Além disso, muitos dos títulos recentes foram mal recebidos pela crítica e tiveram desempenho abaixo do esperado nas bilheteiras.
Filmes como Eternos, As Marvels e Capitão América: Admirável Mundo Novo enfrentaram grandes dificuldades. Ao mesmo tempo, personagens populares como Thor e Hulk foram redirecionados para papéis cômicos que enfraqueceram seu apelo. Tudo isso somado torna o cenário atual da Marvel muito mais desafiador do que o que os Russo encontraram em sua primeira passagem.
Uma das forças da Saga do Infinito era o sentimento de continuidade. Cada filme parecia parte essencial de um plano maior, o que incentivava os espectadores a acompanhar todas as produções. Agora, sem uma linha narrativa central clara, até mesmo os lançamentos com maior potencial se tornam isolados e perdem relevância.
A ausência de um grupo de Vingadores bem definido, somada à dificuldade de lançar novos personagens carismáticos, complica ainda mais o caminho para as próximas fases. Nesse contexto, os novos filmes dos Vingadores precisam ir além dos grandes eventos, tendo a missão de restaurar a confiança do público na franquia.
Os Russo ainda são uma boa escolha?
O retorno dos diretores pode ser visto como uma tentativa desesperada da Marvel de reconquistar seu prestígio. Mas, diante do histórico recente da dupla, surge a dúvida: será que os Russo ainda têm algo novo a oferecer? O sucesso de seus trabalhos anteriores dentro do MCU pode ter sido resultado mais da estrutura colaborativa do estúdio do que de uma visão autoral consistente.
Mesmo filmes como Capitão América: O Soldado Invernal, elogiado pela ação e construção de suspense, devem parte de seu sucesso à equipe técnica responsável pelas coreografias de luta — profissionais que mais tarde desenvolveram a franquia John Wick. Isso sugere que o mérito dos Russo pode ter sido superestimado.
Caso Avengers: Doomsday ou Guerras Secretas falhem em criar empolgação ou gerar impacto, a Marvel corre o risco de encerrar sua saga de forma melancólica. A saturação do público, o esvaziamento narrativo e a concorrência cada vez mais preparada — como o novo universo da DC liderado por James Gunn e o universo de The Batman comandado por Matt Reeves — aumentam ainda mais o grau de dificuldade.
A própria ideia de usar o retorno dos Russo como trunfo pode sair pela culatra, evidenciando o esgotamento das fórmulas anteriores. E, se o público não estiver mais disposto a embarcar nessa viagem, talvez nem mesmo os diretores que comandaram o auge da Marvel consigam evitar o fim da linha.