Prepare o coração, respire fundo e deixe-se perder, mas só no bom sentido, no drama Perdido na Montanha, que acaba de estrear na Netflix. Baseado no livro autobiográfico de Donn Fendler, o longa dirigido por Andrew Boodhoo Kightlinger não é apenas uma história de sobrevivência: é um mergulho nas profundezas do medo humano, da solidão e, acima de tudo, da resiliência.
A trama acompanha Donn (vivido com impressionante entrega por Luke David Blumm), um garoto de 12 anos que, ao se separar da família durante uma trilha no Monte Katahdin, no Maine, precisa sobreviver por nove longos dias na mata. É aí que a montanha deixa de ser mero cenário para virar personagem, imponente, ameaçadora, quase cruel.
Um roteiro simples, mas eficaz
Não espere reviravoltas mirabolantes ou diálogos cheios de floreios: o roteiro aposta no básico, mas o faz com honestidade e precisão. Cada momento no bosque traz um prenúncio sutil do que está por vir, com barulhos na mata que mais parecem sussurros do destino e closes que amplificam a vulnerabilidade do menino diante de uma natureza indiferente.
Os cortes secos, a fotografia lavada e os silêncios longos criam uma atmosfera que beira o sufocante. Quando Donn morde um pedaço de raiz ou bebe água suja de um riacho, não é só ele que estremece, o espectador também sente o gosto amargo da sobrevivência.
Uma atuação que carrega o filme nas costas
Sem exagero: Luke David Blumm carrega o filme nas costas. Com um olhar que mistura medo e esperança, o jovem ator transforma o simples ato de andar sem rumo em uma jornada emocional e intensa. Paul Sparks e Caitlin FitzGerald, no papel dos pais, aparecem pouco, mas funcionam como âncoras emotivas, lembrando que do outro lado da floresta há uma família destroçada pela angústia.
A trilha sonora é minimalista, quase ausente, o que só intensifica a solidão do protagonista. Quando a música finalmente chega, é como um sopro de alívio e, ao mesmo tempo, um lembrete cruel de que ele ainda não está salvo.
Um drama de sobrevivência que fala sobre todos nós
Embora conte uma história real, Perdido na Montanha traz um simbolismo que vai além dos fatos. Donn não luta apenas contra o frio, a fome e os perigos da floresta, mas contra seus próprios medos e limites.
A montanha, nesse cenário, não é só um lugar, mas um espelho: cada árvore retorcida, cada neblina densa, cada noite sem estrelas reflete as batalhas internas que todos enfrentamos quando nos sentimos perdidos na vida.
E como não mencionar a intensidade de emoções que o filme provoca? Há momentos em que tudo parece amplificado: a fome vira desespero, o frio torna-se um inimigo invisível, o som do vento ganha ares de lamento. A natureza aqui não é só pano de fundo, mas uma entidade viva, uma mãe impiedosa que testa os limites de quem ousa desafiá-la.
Vale a pena assistir?
Sem dúvida, sim. Não espere um filme cheio de ação ou um suspense com mil artifícios. Perdido na Montanha é um filme pequeno, quase intimista, mas que pulsa grandeza em cada detalhe. É como um sussurro que vira grito, como uma faísca que incendeia, e quando você menos espera, lá está você, torcendo, sofrendo e se emocionando com cada passo daquele menino solitário.
Já disponível na Netflix, o filme é uma ótima pedida para quem gosta de dramas baseados em fatos reais e, principalmente, para quem aprecia histórias que falam ao coração sem precisar gritar. Um lembrete singelo de que, às vezes, a maior montanha a escalar está dentro de nós.
Perdido na Montanha está disponível na Netflix.