Em um ano que já se destaca como uma das melhores safras de terror no cinema, O Telefone Preto 2 chega aos cinemas reforçando o legado de vilões icônicos que misturam o real com o sobrenatural.
Dirigido por Scott Derrickson e estrelado novamente por Ethan Hawke como o aterrorizante Sequestrador (ou The Grabber, no original), o filme não só expande o universo do sucesso de 2022, mas também reacende discussões sobre suas raízes na criminologia sombria dos anos 1970. O vilão mascarado, que agora assombra os sonhos de suas vítimas como uma versão espectral de Freddy Krueger, tem uma inspiração direta em um dos serial killers mais notórios da história americana: John Wayne Gacy, o infame “Palhaço Assassino”.
A Sombra de John Wayne Gacy
John Wayne Gacy, nascido em 1942 em Chicago, era um homem de fachada impecável. Durante o dia, trabalhava como empreiteiro de construção e, nas horas vagas, se apresentava em festas infantis como o palhaço “Pogo” ou “Patches”. Sua imagem alegre contrastava com a realidade macabra: entre 1972 e 1978, Gacy sequestrou, torturou, estuprou e assassinou pelo menos 33 jovens meninos e adolescentes, a maioria deles entre 15 e 21 anos. Suas vítimas eram atraídas para sua casa com promessas de emprego ou festas, onde eram asfixiadas ou estranguladas. Gacy enterrou 26 corpos em um espaço raso sob o piso de sua residência e descartou outros em rios próximos, chocando a nação quando os restos foram descobertos em dezembro de 1978.
Condenado em 1980 por 33 assassinatos, Gacy passou 14 anos no corredor da morte, onde pintou retratos de si mesmo como palhaço – obras que hoje valem fortunas no mercado negro de memorabilia macabra. Ele foi executado por injeção letal em 10 de maio de 1994, aos 52 anos. Seu caso popularizou o arquétipo do “palhaço assassino” na cultura pop, influenciando obras como It: A Coisa, de Stephen King, e agora, indiretamente, a franquia Telefone Preto.
O conto original de Joe Hill – filho de Stephen King e autor de Fantasmas do Século XX, base para o primeiro filme – descreve o Sequestrador como um homem obeso que trabalha como palhaço, uma referência clara a Gacy.
“Eu queria capturar aquela combinação aterrorizante de inocência corrompida”, disse Hill em entrevistas recentes.
No entanto, para o cinema, a adaptação mudou o perfil do vilão para um mágico de máscaras demoníacas, evitando comparações diretas com o palhaço de It e permitindo que Ethan Hawke criasse uma figura única. Ainda assim, a essência permanece: um predador que usa disfarces para atrair crianças inocentes, transformando o lúdico em pesadelo.
O Retorno do Sequestrador Além da Morte
Em O Telefone Preto 2, quatro anos após os eventos do primeiro filme, Finney Blake (Mason Thames, agora com 17 anos) tenta reconstruir sua vida em uma nova cidade, mas as cicatrizes do cativeiro persistem. Sua irmã Gwen (Madeleine McGraw), dotada de visões premonitórias, começa a receber chamadas perturbadoras em seus sonhos através do telefone preto – o mesmo artefato sobrenatural que salvou Finney. As visões revelam desaparecimentos em um acampamento de inverno isolado chamado Alpine Lake, onde três garotos sumiram anos antes.
O que torna O Telefone Preto 2 ainda mais impactante é a evolução do Sequestrador. Morto no final do original – estrangulado por Finney em um confronto brutal –, o vilão retorna não como um copycat, mas como um espírito vingativo. Inspirado em A Hora do Pesadelo, ele invade os sonhos de Gwen, onde ferimentos oníricos se manifestam no mundo real.
“É como se o mal dele transcendesse a morte, tornando-o mais perigoso”, explica o roteirista C. Robert Cargill.
A trama leva os irmãos de volta ao acampamento, onde descobrem conexões pessoais com os crimes antigos do Sequestrador, incluindo sua passagem pelo local como funcionário. O elenco de apoio brilha, com Demián Bichir como o supervisor misterioso do acampamento, Jeremy Davies reprisando o pai alcoólatra dos Blake e novas adições como Arianna Rivas e Miguel Mora. Críticos elogiam a mistura de terror psicológico com elementos de slasher, embora alguns apontem que a ambição sobrenatural dilui um pouco a tensão crua do original.
Por Que Essa Inspiração Assusta Tanto?
A conexão com Gacy não é mera curiosidade histórica; ela amplifica o terror ao lembrar que monstros reais inspiram os fictícios. “Gacy era o vizinho perfeito, o palhaço amado pelas crianças – até que não era”, reflete Derrickson, que baseou partes da história em memórias de sua própria infância nos anos 1970, uma era marcada por medos de predadores anônimos.
Em O Telefone Preto 2, essa dualidade ganha nova camada: o vilão não é mais só um sequestrador, mas um fantasma que explora traumas familiares, forçando Finney e Gwen a confrontar não apenas o passado, mas o legado do mal.
Com bilheteria prevista para superar o primeiro filme (que arrecadou mais de US$ 160 milhões), a sequência consolida Hawke como um ícone do horror moderno – rivalizando com seu papel em A Entidade. Para os fãs, é um lembrete sombrio: às vezes, a ficção não inventa o horror; ela o desenterra.
O Telefone Preto 2 está em cartaz nos cinemas.