Estreando como protagonista, o lutador Ciryl Gane assume o papel de Bastien, um ex-campeão de MMA que tenta deixar para trás um passado marcado pela violência. Longe dos holofotes e vivendo de forma isolada, ele é forçado a retornar à ativa quando se envolve em uma missão que pode mudar tudo.
O filme K.O., lançado pela Netflix na primeira semana de junho, retrata a jornada de um homem que carrega a culpa pela morte de um adversário no ringue e tenta se redimir protegendo o filho da vítima. A história mistura elementos de suspense policial, ação e dilemas morais em um cenário que remete a eventos que poderiam muito bem ter acontecido.
Inspirado, mas não baseado em fatos
O diretor e roteirista Antoine Blossier não afirmou que o enredo de K.O. tenha sido adaptado de uma história real. A trama é original, mas parte de situações que não são incomuns em esportes de contato.
O universo do MMA, em especial, tem histórico de mortes acidentais em lutas oficiais, resultado de lesões graves em regiões sensíveis como a cabeça e o pescoço.
Esses casos, apesar de raros, acontecem e geram discussões sobre os limites da competição esportiva. Ainda que sejam regulados e supervisionados, os riscos continuam presentes, e a linha entre o triunfo e a tragédia pode ser fina.
O filme também explora o impacto psicológico desses eventos em quem sobrevive. Bastien, embora fictício, representa o tipo de personagem marcado pelo trauma, uma figura que não busca absolvição pública, mas tenta encontrar um novo sentido para sua existência através de atos concretos.
Realismo em foco, mas com liberdade criativa
Apesar de ambientar a história em um contexto crível, o longa toma liberdades narrativas para construir sua trama. O conflito central envolvendo a gangue dos Manchours, os policiais e a caça a Léo tem função dramática, e não há indícios de que esses eventos tenham ocorrido de fato.
No entanto, o filme se apoia em elementos reconhecíveis para sustentar o suspense. Questões como corrupção policial, infiltração criminosa em grandes centros urbanos e os bastidores da justiça penal aparecem com frequência em noticiários reais, o que ajuda a tornar a obra mais imersiva.
O tom mais sombrio, o ritmo contido e a violência pontual também diferenciam K.O. de outras produções do mesmo gênero. A intenção não é criar um herói improvável, mas mostrar um homem que luta para não repetir erros, mesmo que isso o coloque novamente em cenários de confronto.
Ainda que seja uma obra de ficção, K.O. encontra semelhanças em histórias verídicas ao abordar as consequências emocionais de tragédias no esporte. A morte de um oponente em combate não afeta apenas a família da vítima, mas também o atleta que, por mais preparado que esteja, carrega o peso do desfecho.
Ao criar um protagonista disposto a assumir responsabilidades e buscar novos rumos, o filme oferece uma leitura sobre empatia e redenção. A história de Bastien não é real, mas poderia ser.