É difícil imaginar que uma história tão extrema tenha saído do cotidiano de uma família comum. Mais ainda quando ela desafia expectativas médicas e deixa para trás uma linha tênue entre o milagre e a ciência.
Inexplicável, filme brasileiro que chegou recentemente à Netflix, não carrega esse nome por acaso. A produção parte de uma história real que, entre 2013 e 2014, mobilizou profissionais da saúde, emocionou familiares e hoje serve de inspiração para milhares de pessoas.
A trama adaptada é inspirada no livro “O Menino que Queria Jogar Futebol”, escrito pelo jornalista Phelipe Caldas. Na obra, ele narra a jornada de Gabriel Varandas, um garoto de oito anos que sonhava em ser jogador de futebol, mas viu sua rotina mudar drasticamente após ser diagnosticado com um tumor no cérebro.
Entre diagnósticos e incertezas
A adaptação cinematográfica, dirigida por Fabrício Bittar e roteirizada em parceria com Andrea Yagui, é fiel a momentos decisivos vividos pela família de Gabriel. Logo no início da jornada, os médicos se depararam com um quadro enigmático: não sabiam ao certo qual era o tipo de tumor. A esperança surgiu apenas com a confirmação de que se tratava de um astrocitoma pilocítico, menos grave e com maiores chances de cura.
O filme retrata também outros momentos críticos, como o retorno de Gabriel ao hospital um dia após receber alta. Na ocasião, ele desenvolveu uma meningite bacteriana e voltou em estado grave, ou quando Gabriel é considerado em estado de morte encefálica.
Numa situação em que os prognósticos eram os piores possíveis, ele surpreende médicos e familiares ao ser reanimado. Essa parte da história é tratada com extrema sensibilidade no filme, sem abrir mão do rigor ao mostrar os procedimentos e as reações de quem estava ao redor.
Não à toa, o filme levanta reflexões sobre os limites entre a medicina e a fé. Gabriel, que era apaixonado por futebol, inspirava-se em grandes ídolos do esporte, como o ex-jogador Fred. O próprio atacante chegou a declarar que se sentia apenas um instrumento de algo maior, usado para dar forças ao menino.
Da realidade ao cinema
O processo de adaptação levou quase um ano e começou com uma mensagem enviada ao autor do livro em 2020. O diretor Fabrício Bittar entrou em contato com Phelipe Caldas interessado em levar a história para as telonas. O roteiro foi desenvolvido a partir de mais de 50 horas de entrevistas com profissionais da saúde, familiares, atletas e lideranças religiosas, além do acesso a documentos e arquivos pessoais da família.
O elenco conta com nomes conhecidos da televisão brasileira, entre eles Letícia Spiller e Eriberto Leão como os protagonistas, interpretando os pais de Gabriel.
Ao abordar os eventos, ele não tenta romantizar a dor, mas sim reconhecer a força e a resiliência humanas. O filme aposta em uma narrativa que transita entre o realismo e a sensação de que algo maior pode ter influenciado o desfecho.