Herege, novo filme da A24, acaba de estrear no catálogo do Prime Video, e já se tornou assunto entre os fãs de terror psicológico. Dirigido pelos mesmos roteiristas de Um lugar silencioso, o longa tem um ingrediente extra que faz toda a diferença: Hugh Grant em sua melhor (ou pior) forma como o enigmático e assustador Sr. Reed.
O que começa como uma simples visita de duas missionárias mórmons se transforma em um jogo sinistro de manipulação, fé e controle. E o final do filme? Bom, ele é daqueles que deixa mais perguntas do que respostas, e a gente está aqui justamente para isso.
O Sr. Reed: o vilão carismático que esconde algo muito mais sombrio
Logo de cara, o personagem de Hugh Grant conquista com sua fachada amigável, quase inofensiva. Mas à medida que a conversa avança, fica evidente que algo está errado. As missionárias, interpretadas por Sophie Thatcher e Chloe East, são presas em uma armadilha cuidadosamente arquitetada.
Tudo no comportamento de Reed é planejado. Desde a mentira sobre a esposa, sustentada por uma vela com cheiro de torta de blueberry, até os discursos sobre religião e “a única verdadeira fé”. É ali que ele começa a mexer com a cabeça das jovens, não com violência física imediata, mas com uma retórica que desestabiliza até os mais firmes de crença.
A escolha entre duas portas e o início da verdadeira tortura mental
Quando Reed oferece às garotas duas portas, uma representando a fé, outra a descrença, o clima do filme muda de desconfortável para angustiante. É um teste, uma armadilha intelectual travestida de escolha. Paxton escolhe a descrença. Barnes decide se manter firme na fé. E ambas acabam no mesmo lugar: um porão sombrio onde a loucura ganha forma.
Lá, encontram uma suposta profetisa, alimentada com uma torta envenenada. Reed afirma que ela morrerá e ressuscitará para contar o que viu do “outro lado”. A mulher de fato volta à vida e murmura algo que ecoa até o final: “não é real”.
Simulação, religião e manipulação: o quebra-cabeça perturbador
É aí que o filme mergulha de vez na dúvida. Reed assassina Barnes e arranca um pedaço metálico de seu braço, alegando que ela era uma simulação. Paxton, ainda viva, contesta: diz que se trata de um contraceptivo, e acusa Reed de estar improvisando ao perder o controle da situação.
Mas ele insiste: a única saída seria ela mesma se matar, a chave para escapar da simulação. O roteiro, nesse ponto, mistura filosofia com fanatismo e controle, criando uma analogia entre religião e manipulação mental. Reed não quer provar que está certo. Ele quer provar que pode fazer qualquer um acreditar no que ele quiser.
O verdadeiro plano por trás do culto e a revelação final
Paxton foge, encontra um cômodo com outras mulheres parecidas com a tal profetisa, todas enjauladas. Descobre que tudo fazia parte de um plano maior, um experimento doentio de dominação. Reed reaparece e pergunta se ela finalmente entendeu qual é a verdadeira religião. Ela responde: “controle”.
Essa é a revelação central de Herege. Reed não é apenas um psicopata. Ele é a personificação do fanatismo, da manipulação, da obsessão por ter razão. Tudo o que ele fez foi para provar que podia controlar até a fé dos outros.
A morte que salva e o possível milagre do final
No embate final, Paxton esfaqueia Reed, mas ele ainda a fere gravemente. Quando tudo parece perdido, Barnes, antes tida como morta, mata Reed com um golpe certeiro. Aparentemente, ela resistiu tempo suficiente para salvar a amiga.
Paxton, agora sozinha, escapa pela janela. Lá fora, o mundo está coberto de neve. Um detalhe chama atenção: uma borboleta pousa em sua mão. O símbolo é claro, mas a mensagem é aberta a interpretações.
O que o final de Herege realmente quer dizer?
O filme não entrega respostas fáceis, e nem quer. Para alguns, o final é um milagre. Barnes foi o “anjo salvador”, e Paxton sobreviveu graças à fé. Para outros, tudo foi alucinação. Talvez Paxton tenha morrido, e o final seja sua passagem para o além, representado pela neve e a borboleta.
A própria fala da profetisa, “não é real”, alimenta essa dúvida. O filme termina, mas a conversa continua, como todo bom terror psicológico deve fazer. E nisso, Herege acerta em cheio: ao colocar a fé e o controle no mesmo ringue, ele nos obriga a olhar para dentro e questionar o que realmente nos move.
Herege está disponível no Prime Video.