Entenda

Frankenstein: Final explicado do filme de Guillermo del Toro

A versão de del Toro transforma o clássico de Mary Shelley em uma fábula gótica sobre culpa, perdão e o que realmente significa ser humano

Frankenstein: Final explicado do filme de Guillermo del Toro

Guillermo del Toro finalmente realizou um sonho de décadas ao dirigir sua própria versão de Frankenstein (2025), agora em cartaz nos cinemas. Com um elenco estelar formado por Oscar Isaac, Jacob Elordi, Mia Goth e Christoph Waltz, o filme é uma das adaptações mais esperadas do clássico literário — e, como já era de se esperar, traz a marca autoral do cineasta mexicano: monstruosidade e humanidade entrelaçadas em uma narrativa poética e dolorosa.

O longa mistura horror gótico com drama existencial, colocando no centro a relação entre criador e criatura — e um desfecho que, mais do que um clímax de destruição, se torna um momento de redenção e humanidade.

A história reimaginada

Em Frankenstein, Oscar Isaac vive o Dr. Victor Frankenstein, um cientista obcecado por vencer os limites da morte. A obsessão o leva a criar uma criatura viva a partir de restos humanos — interpretada por Jacob Elordi —, dotada de consciência, mas incapaz de compreender o mundo que o rejeita.

Guillermo del Toro ambienta sua história em uma Europa devastada pela guerra, reforçando a atmosfera de desespero e decadência moral. Assim como na obra original de Mary Shelley, o horror nasce não da criatura em si, mas da reação da sociedade diante dela. A diferença é que, sob o olhar de del Toro, o monstro é o personagem mais puro da trama — e também o mais humano.

A relação entre criador e criatura

O filme se estrutura em torno do embate emocional entre o criador e sua criação. Victor Frankenstein, movido pela arrogância e pelo desejo de poder, rejeita o monstro assim que ele desperta. Sem guia nem afeto, a criatura vaga pelo mundo em busca de propósito, enfrentando o medo e a crueldade dos homens.

Enquanto isso, Victor é consumido pela culpa e pela paranoia, preso à própria loucura. A cada tentativa de ignorar sua criação, ele se aproxima mais da ruína — física e espiritual.

Frankenstein

O final explicado

No ato final, a criatura retorna para confrontar Victor em seu laboratório. O confronto é intenso, mas não marcado pela fúria: o monstro quer compreender por que foi abandonado. Frankenstein tenta justificar seus atos com argumentos científicos, mas a criatura o desafia com uma pergunta simples: “Se você podia criar a vida, por que não criou o amor?”

Durante a discussão, um incêndio consome o laboratório, e Victor é gravemente ferido. Em um gesto inesperado, o monstro o carrega para fora das chamas. À beira da morte, Frankenstein pede perdão, e o monstro, em lágrimas, o perdoa — não por compaixão, mas por libertar a si mesmo da dor.

Na cena final, a criatura se afasta em meio ao frio, caminhando sozinha em direção ao amanhecer. É um encerramento profundamente simbólico: o sol representa redenção e consciência, e o monstro, antes símbolo do horror, se torna o verdadeiro ser humano da história.

O significado do desfecho

Guillermo del Toro subverte o mito de Frankenstein para falar sobre empatia e responsabilidade. O criador morre vítima de sua própria arrogância, enquanto a criatura encontra paz ao aceitar quem é — mesmo sem encontrar um lugar no mundo.

O fogo e a luz são elementos centrais do final: o laboratório em chamas destrói a ciência sem alma, enquanto o amanhecer simboliza o renascimento moral da criatura. Del Toro deixa claro que o verdadeiro terror não está na carne deformada, mas na falta de compaixão humana.

As mensagens por trás da tragédia

Assim como em O Labirinto do Fauno e A Forma da Água, del Toro transforma monstros em metáforas para a rejeição, o preconceito e a solidão. Em sua visão, o horror é apenas uma linguagem para discutir o amor e a perda.

A criatura de Frankenstein é, portanto, a síntese da humanidade: criada do sofrimento, movida pelo desejo de ser amada e condenada por ser diferente. O final, ao invés de um grito de desespero, é um suspiro de aceitação — uma conclusão triste, mas espiritualmente libertadora.

Conclusão

O Frankenstein de Guillermo del Toro é mais do que uma simples adaptação — é uma reinvenção sensível e filosófica do mito. O final explica e amplia o significado original da obra de Mary Shelley: a ideia de que o verdadeiro monstro não é quem tem cicatrizes no corpo, mas quem é incapaz de reconhecer a humanidade no outro.

Com uma estética deslumbrante, atuações intensas e uma narrativa profundamente emocional, del Toro entrega um filme que é ao mesmo tempo assustador e comovente — um conto sobre criação, culpa e o poder redentor do perdão.