
Poucas cinebiografias conseguem equilibrar emoção com a condensação dos fatos reais da vida de alguém, mas Coração de Lutador, estrelado por Dwayne Johnson e dirigido por Benny Safdie, segue justamente nesse caminho. O longa, que revisita a história de Mark Kerr, um dos pioneiros do MMA, também explora o o peso da fama e da autodestruição.
O final vai contra as expectativas, e surpreende ao entregar um desfecho fora do comum em filmes que contam a jornada de um campeão. A forma como esse encerramento foi construído gera discussões não apenas sobre o filme, mas também sobre como ele se conecta com a vida real do lutador.

O desfecho no filme
O roteiro mostra Mark Kerr tentando conciliar a pressão das competições com a luta contra o vício em analgésicos e o relacionamento conturbado com Dawn Staples. No clímax da narrativa, o lutador chega à final do PRIDE Fighting Championship, torneio que buscava repetir no Japão o sucesso do UFC nos Estados Unidos.
Apesar de demonstrar avanços em sua recuperação e de tentar reconstruir os laços afetivos, o personagem interpretado por Johnson não alcança a vitória. Ele é derrotado pelo japonês Kazuyuki Fujita, encerrando a trajetória no filme de forma crua.
Essa abordagem dá ao longa um tom mais humano e melancólico, em contraste com outras produções esportivas que apostam em finais de superação triunfante.

O retrato do vício e da recuperação
Um dos pontos centrais do filme é a relação de Kerr com os opioides. Safdie opta por mostrar esse problema de maneira gradual, evitando o sensacionalismo comum em cinebiografias hollywoodianas. O vício aparece como pano de fundo, mas influencia diretamente nas oscilações do lutador.
A recuperação, da mesma forma, é tratada de modo sutil. Há momentos em que a dor e a luta interna do personagem vêm à tona, mas, nesse caso, a narrativa prefere manter o foco nas competições e em seu relacionamento.
Na vida real, Mark Kerr confirmou em entrevista à revista TIME que hoje está sóbrio há mais de sete anos. Ele reconheceu que a recuperação exigiu tempo e esforço, reforçando que o processo foi tão importante quanto qualquer conquista esportiva.

O relacionamento entre Mark e Dawn
Outro eixo dramático da trama é a relação de Kerr com Dawn Staples, interpretada por Emily Blunt. O casal é mostrado em um vínculo intenso, mas também destrutivo, marcado por brigas e acusações que impactam diretamente o desempenho do atleta.
No filme, eles se afastam após uma overdose sofrida por Kerr, mas acabam se reconciliando. Na vida real, Kerr e Dawn se casaram em 2000 e tiveram um filho. O relacionamento terminou em 2015, mas o lutador declarou que hoje mantém uma visão mais madura e positiva sobre a ex-esposa.

O que aconteceu depois na vida real
Após a derrota para Fujita no PRIDE, Mark Kerr ainda tentou voltar ao topo. Participou de mais lutas no Japão e em torneios menores nos Estados Unidos, mas não repetiu o sucesso do início da carreira. Em 2004, foi derrotado em apenas 40 segundos por Yoshihisa Yamamoto, o que selou sua saída definitiva do campeonato.
Kerr se manteve ativo em competições menores até 2009, quando encerrou a trajetória profissional após uma sequência de derrotas. Apesar de não ter conquistado os títulos esperados, seu nome continua lembrado como o de um pioneiro que ajudou a popularizar o MMA.