Legolas é um dos personagens mais lembrados da trilogia O Senhor dos Anéis. Seja pela pontaria perfeita, pelas acrobacias absurdas ou pela tranquilidade até nas maiores batalhas, ele conquistou os fãs com um carisma silencioso.
Mas por trás das câmeras e longe dos olhos do público, existe uma habilidade do elfo que foi completamente ignorada nas adaptações para o cinema, e que poderia mudar a forma como entendemos a própria natureza dos elfos.
Os elfos não dormem como os humanos e isso muda tudo
Ao olhar rápido, os elfos da Terra-média podem parecer apenas humanos com orelhas pontudas e algumas habilidades sobre-humanas. Mas basta mergulhar um pouco mais fundo no universo criado por Tolkien para perceber que eles são, na verdade, são seres totalmente opostos. Enquanto os homens precisam de sono profundo para se recuperarem, os elfos funcionam em outra frequência.
No livro As Duas Torres, durante o capítulo “Os Cavaleiros de Rohan”, Tolkien descreve como Legolas descansava de forma totalmente diferente dos outros membros da Sociedade. Ele não dormia, mas entrava em um transe consciente, uma espécie de meio-termo entre a vigília e o sonho. Isso permitia que ele mantivesse o corpo e a mente em equilíbrio sem nunca se desligar completamente.
Legolas, então, não se cansava como Aragorn ou Gimli. Quando seus companheiros dormiam exaustos, ele caminhava entre as árvores, cantando suavemente e restaurando suas forças com os olhos bem abertos. Um elfo em vigília constante, sem a necessidade de repouso total. Isso o tornava ideal para longas caminhadas, perseguições ou mesmo vigílias noturnas, e sim, seria um baita diferencial em qualquer batalha.
A beleza do sonho desperto: como Legolas misturava sono e realidade
Mais tarde, na floresta de Fangorn, Tolkien descreve Legolas deitado ao lado dos amigos, descansando. Mas mesmo ali, ele não dormia como os homens. O elfo permanecia com os olhos abertos, fundindo os sonhos élficos com a escuridão da floresta. Essa habilidade, poética e funcional ao mesmo tempo, é descrita assim: “descansava com os olhos abertos, mesclando a noite viva com um sonho profundo, como é costume entre os elfos”.
É como se ele estivesse com um pé no mundo físico e o outro no reino dos sonhos, uma conexão única com o plano espiritual. Essa forma de descanso não era apenas uma vantagem prática. Era também um reflexo da espiritualidade élfica, da ligação que esses seres tinham com os Valar e com o próprio mundo.
O filme de Peter Jackson, apesar de toda a qualidade e fidelidade em vários pontos, simplesmente ignora essa característica. Em nenhum momento vemos Legolas descansando desse jeito.
Os elfos podiam dormir, mas escolhiam sonhar acordados
Apesar do que vemos em O Senhor dos Anéis, os elfos de Tolkien eram, sim, capazes de dormir da maneira tradicional. Em O Hobbit, por exemplo, os guardas do Rei Thranduil (pai de Legolas) são derrotados pelo álcool e caem no sono profundo, o que permite a fuga de Bilbo.
No Silmarillion, há outras referências mais diretas ao sono dos elfos e meio-elfos. Em um dos trechos mais emocionantes, Lúthien dorme na grama antes de seu amado Beren partir em uma missão perigosa. Mas há quem defenda que Tolkien usava o termo “dormir” de maneira simbólica em certos momentos, e que, na verdade, os elfos estariam apenas em seus transes característicos.
Seja como for, essa ambiguidade mostra como Tolkien preferia deixar certos elementos em aberto, permitindo que os leitores preenchessem lacunas com a própria imaginação.
O papel dos sonhos na cultura élfica e a ligação com os Valar
Na mitologia de Tolkien, os sonhos dos elfos não são apenas devaneios noturnos. Eles têm valor simbólico e até profético. Um dos Valar mais importantes para os elfos era Lórien (também chamado de Irmo), senhor dos sonhos. É em sua honra que a floresta de Lothlórien recebe esse nome, o que revela o peso que os sonhos tinham para esse povo.
Em algumas histórias, os sonhos servem como meios de comunicação com os próprios deuses. Ulmo, outro Vala, aparece nos sonhos de Finrod e Turgon, instruindo-os a fundarem as lendárias cidades de Gondolin e Nargothrond.
Ou seja, enquanto os humanos dormem por necessidade biológica, os elfos parecem sonhar por escolha, e através disso, recebem visões, conselhos e até alertas do futuro. Um elemento mágico e espiritual que os filmes preferiram deixar de lado, talvez por não querer mergulhar tão fundo nessa parte do lore.
Adaptações recentes começaram a tocar no tema, mas ainda com timidez
Embora a trilogia de filmes de O Senhor dos Anéis e O Hobbit tenham deixado esse detalhe de lado, Os Anéis de Poder, série da Prime Video, deu um pequeno passo nesse sentido. No episódio “A Grande Onda”, um Númenóreano comenta que os elfos são “trabalhadores que não dormem, não se cansam e não envelhecem”.
Ainda assim, não há cenas explícitas mostrando esse estado de transe. Já no universo de Dungeons & Dragons, que se inspira fortemente em Tolkien, os elfos são retratados exatamente assim: eles não dormem, apenas meditam por quatro horas, obtendo o mesmo descanso que humanos conseguiriam em oito.
É quase como se os criadores do RPG tivessem lido as entrelinhas dos livros de Tolkien e decidido levar essa habilidade adiante. Mesmo que não seja tão chamativa quanto matar um olifante com uma flecha só, essa capacidade de sonhar acordado revela uma profundidade fascinante do personagem Legolas, e do povo élfico como um todo.
A trilogia de O Senhor dos Anéis e as 2 Temporadas de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder encontram-se disponíveis no Prime Video.