Mesmo com todo o tom escrachado e violento que domina A Morte de Um Unicórnio, o filme termina com um momento de silêncio e incerteza. Após uma jornada que mistura sátira, tensão e fantasia, a produção fecha com uma pergunta que ficou no ar: o que realmente aconteceu com Elliot e Ridley após o acidente final?
O longa, estrelado por Paul Rudd e Jenna Ortega, opta por um desfecho menos literal e mais simbólico, dando margem para interpretações, ainda que alguns sinais ajudem a montar o quebra-cabeça.
A narrativa acompanha pai e filha a caminho da casa da família Leopold, empregadores de Elliot, quando atropelam acidentalmente um unicórnio. O animal é colocado no porta-malas e, a partir daí, tudo desanda.
O incidente desperta o interesse por seus poderes de cura e, ao mesmo tempo, desencadeia a fúria dos pais da criatura. Entre sangue, sátira e crítica social, a história se transforma num conto sombrio sobre laços familiares, humanos e mitológicos.
Unicôrnios atacam… ou salvam?
No centro do caos estão os dois protagonistas, que sobrevivem ao massacre promovido pelos unicôrnios e são encontrados pela polícia. No entanto, enquanto estão sob custódia, os unicórnios surgem mais uma vez, perseguem o carro da polícia e o jogam para fora da estrada.
Esse gesto final é o ponto mais ambíguo do desfecho. Em um primeiro olhar, parece uma tentativa de assassinato, mas, ao longo do filme, a relação entre as criaturas e Ridley muda de tom. Ela é vista pelos unicôrnios como alguém digna de confiança e isso faz toda a diferença.
O comportamento das criaturas também é contraditório. Elas são agressivas e mortais, mas demonstram empatia em momentos-chave. Quando Elliot morre, por exemplo, os unicórnios usam seus poderes para trazê-lo de volta à vida, ao mesmo tempo em que restauram seu próprio filhote.
Por isso, o gesto de jogar o carro da polícia para fora da estrada pode ser lido como uma tentativa de libertá-los, e não de eliminá-los. A troca de olhares entre Elliot e o unicórnio antes da colisão reforça essa ideia: havia um aviso, talvez até um pedido de confiança.
Elliot morreu… mas voltou
A cena da morte de Elliot é um dos pontos mais emocionais do terceiro ato. Após enfrentar Shepard, um dos responsáveis por tentar capturar os animais misticos, ele é ferido fatalmente e morre nos braços da filha. O impacto é grande, mas os unicôrnios o ressuscitam, mudando completamente o tom do filme
Esse momento revela o real alcance dos poderes das criaturas. Com o filhote restaurado e a presença de Ridley como uma espécie de “ponte” com esse mundo cósmico, Elliot é trazido de volta, reforçando o elo emocional entre pai e filha (e entre humanos e unicórnios).
A ressureição também serve como confirmação de que os unicórnios do filme não são movidos apenas por violência. Eles reagem à dor, à ameaça e à perda, mas reconhecem compaixão e vínculo.
O que acontece com Ridley, Elliot e os unicórnios?
A sequência final deixa algumas possibilidades em aberto. Se sobreviveram ao acidente, Ridley e Elliot podem enfrentar acusações graves pelo que aconteceu na propriedade dos Leopold.
Sem testemunhas ou provas, tudo pode recair sobre eles. Mesmo com a ajuda de Griff, o mordomo sobrevivente, a vida deles não será simples.
Há ainda a ameaça invisível dos poderosos interessados nas propriedades curativas. A morte dos Leopold pode não encerrar a exploração desses animais, e isso cria um conflito em potencial. Ridley e Elliot sabem demais e podem se tornar alvos.
Já os unicórnios parecem ter conseguido restaurar a família e desaparecer novamente. Como as florestas onde vivem são áreas protegidas, há uma chance de que voltem ao anonimato, reforçando seu status de lenda viva.
Uma fábula disfarçada de carnificina
Apesar da estética grotesca e do humor ácido, A Morte de Um Unicórnio é, no fundo, uma história sobre famílias. A relação conturbada entre Elliot e Ridley passa por um processo de cura ao longo do filme, assim como a dor dos unicórnios pela perda do filhote os leva a atitudes extremas.
O filme também se posiciona como crítica direta ao elitismo e à exploração corporativa, representados pelos Leopold. Os personagens mais ligados à ciência e à ganância acabam mortos, enquanto os que demonstram empatia, como Griff e os protagonistas, encontram algum tipo de redenção.
A escolha por um final ambíguo não é gratuita, mantendo viva a reflexão sobre até que ponto a humanidade está disposta a interferir no que não entende, e quais laços são fortes o bastante para resistir à destruição.
A Morte de Um Unicórnio está disponível no Prime Video.