
Lançado originalmente em 2023, o longa Dentro chegou nesta sexta-feira ao catálogo da Netflix e rapidamente chamou a atenção de quem busca algo diferente do habitual.
Estrelado por Willem Dafoe, o filme aposta em uma experiência sensorial e simbólica, mais próxima de uma instalação artística do que de uma narrativa tradicional.
Em vez de seguir uma linha clara de acontecimentos, o filme se ancora no desconforto, nas pausas e na dúvida. A trama é simples, mas os desdobramentos psicológicos e visuais transformam o enredo em algo maior.
Aqui, escapar de um lugar trancado se torna apenas o ponto de partida para uma reflexão profunda sobre arte, tecnologia e solidão.
Prisão sem grades
Nemo aciona sem querer o sistema de segurança do local, que trava todas as saídas. Seus comparsas o abandonam, mas os policiais nunca aparecem. Preso em um ambiente high-tech que deveria proteger a arte, o protagonista é forçado a enfrentar semanas (ou meses) de solidão, escassez de alimentos e um sistema de climatização que oscila entre extremos.
A ambientação minimalista e silenciosa do penthouse serve como um reflexo do inferno pessoal de Nemo. Com o tempo, ele passa a construir objetos artísticos, observar obsessivamente os funcionários do edifício pelas câmeras de segurança e fantasiar narrativas.
Em meio a tudo isso, ele também desenvolve um plano de fuga: uma torre improvisada feita com móveis, que se torna seu único elo com a esperança de liberdade.
Mais do que uma prisão física, o filme propõe uma discussão sobre a dependência moderna da tecnologia. A segurança automatizada do apartamento é tão eficaz que impede qualquer fuga, mas também falha em notificar as autoridades.
É essa estrutura invisível que impõe sofrimento constante a Nemo, transformando cada tentativa de escape em frustração. O personagem chega a provocar um incêndio para ativar os chuveiros automáticos, mas nem isso abala o sistema.
E afinal, ele conseguiu escapar?
No clímax da narrativa, Nemo faz uma última tentativa de alcançar o teto usando sua torre. A câmera corta para a luz caindo no chão,mmas o protagonista não é visto. A ausência de uma resposta direta é intencional, mas, mais importante do que saber se ele saiu, é entender o que foi deixado para trás.
Nemo abandona suas criações – desenhos, pinturas e a própria estrutura monumental feita para escapar. O que fica é uma obra de arte feita de desespero e esperança, um registro do quanto ele precisou destruir para continuar criando.
Com esse final aberto, Dentro reafirma seu tom contemplativo. O filme não se propõe a explicar tudo, mas sim a provocar reflexão. E nesse sentido, o desfecho cumpre exatamente o que se espera dele.
Dentro está disponível na Netflix.