
Desde os primeiros minutos, Uma Batalha Após a Outra define o ritmo que vai entregar em toda a sua duração. O longa que chega nesta quinta-feira (25) aos cinemas, dirigido por Paul Thomas Anderson e protagonizado por Leonardo DiCaprio, é uma verdadeira mistura de caos, ação e frenesi, e desponta como um dos melhores filmes do ano, sem muita margem para discussão.
Pode parecer exagero para quem ainda não assistiu, mas posso garantir que o filme é, sim, tudo isso. Anderson entrega uma história visceral e inflamada sobre revolução, enquanto coloca o espectador frente a uma obra que, por si só, consegue definir toda uma sociedade.
Sinopse
Uma Batalha Após a Outra acompanha Bob (Leonardo DiCaprio) e Perfidia (Teyana Taylor), uma dupla de revolucionários que se envolve em uma série de atentados pelos Estados Unidos, libertando imigrantes detidos e infernizando a vida de um governo militarizado que está voltado para promover o bem das elites e perpetuar sua gente no poder.
Após seus anos áureos na linha de frente da organização French 75, Bob tenta levar uma vida tranquila ao lado da filha Willa (Chase Infiniti), até ser forçado a enfrentar o retorno de seu antigo inimigo, Coronel Steven J. Lockjaw (Sean Penn), que ameaça tudo o que construiu. Com isso, Bob parte em uma missão frenética, enfrentando o passado, perigos e perseguições enquanto corre contra o tempo para salvar quem ama.
Ritmo envolvente, mesmo com longa duração
Com 2h50 de duração, Uma Batalha Após a Outra poderia facilmente pesar para o público, mas o ritmo ágil do roteiro e a energia das atuações fazem com que o filme caminhe sem que isso vire um fardo para o espectador. Seria exagero dizer que não dá para ver o tempo passar (porque dá), mas cada segundo do longa faz valer a pena, sem que a produção tenha um momento de cansaço.
Anderson, que além de dirigir também assina o roteiro, entrega aqui uma obra de fôlego, que não permite distrações e mantém o espectador imerso até o último instante, com uma narrativa original, envolvente e intensa.
O elenco, inclusive, tem grande responsabilidade por esse sucesso e reforça a potência da narrativa. Leonardo DiCaprio assume o protagonismo em um de seus melhores trabalhos recentes, enquanto nomes como Teyana Taylor, Sean Penn, Benício Del Toro e a novata Chase Infiniti acrescentam peso à história com atuações da mais alta qualidade.
O diretor conduz a câmera com precisão e explora diferentes técnicas cinematográficas que contribuem com cada detalhe das performances, permitindo que os atores transitem entre emoções contrastantes sem perder o fio da narrativa.
Chega a ser genial, e paradoxal em certo ponto, como cada elemento técnico – seja na direção, atuação, tilha sonora ou roteito – consegue se favorecer entre si. É quase um ecossistema cinematográfico perfeito.
Inesperadamente, uma comédia
Por incrível que pareça, com sua proposta intensa e ritmo frenético, Uma Batalha Após a Outra é uma comédia, e das de mais alta qualidade. Aqui, Anderson usa e abusa de um timing invejável que pega o espectador em momentos de desconforto ou em conclusões inesperadas que constantemente arrancam gargalhadas.
DiCaprio, em especial, se destaca em uma sequência do segundo ato, em uma cena de perseguição que consegue ser tensa, caótica e hilária na mesma intensidade. O telespectador se prende na cadeira com a apreensão, ao tempo que ri das trapalhadas de Bob Ferguson.
Teyanna Taylor e Sean Penn também não fogem à regra. Quando analisados, seus personagens carregam elementos profundos e densos, mas acabam protagonizando as cenas mais absurdas e inesperadas da trama.
Vale também a mensão ao sensei latino protagonizado por Benicio del Toro, que, conforme a histótia avança, ganha mais contornos e camadas inesperadas de profundidade – além de ser, de longe, o revolucionário mais competente do filme.
Mais do que uma comédia, a obra de Paul Thomas Anderson é uma sátira extremamente bem posicionada do mundo em que vivemos hoje. O filme critica os grandes líderes, as motivações das forças armadas, as corporações que visam apenas o bem-estar das classes mais altas e o autoritarismo governamental; escancara as movimentações veladas da elite branca; exalta o poder do povo; promove um olhar cru sobre a imigração, e tudo isso sem perder o fio narrativo.
Destaque do ano
A narrativa não abre espaço para pausas longas, o que garante um ritmo quase ininterrupto. Esse aspecto se torna ainda mais notável quando comparado a outros épicos de longa duração protagonizados por DiCaprio, como O Assassino da Lua das Flores. Enquanto o filme de Scorsese opta por um andamento mais contemplativo, Anderson prefere a urgência, o movimento constante e a sensação de que algo está sempre prestes a explodir (e às vezes realmente está).
Esses elementos são fortemente acentuados pela trilha sonora composta por Jonny Greenwood, colaborador frequente do diretor. A música intensifica as cenas, criando atmosferas de tensão e alívio nos momentos exatos, usando os instrumentos de forma a acompanhar o ritmo, enquanto funciona como um motor que impulsiona a história para frente.
Com esse conjunto, Uma Batalha Após a Outra desponta como um dos grandes destaques recentes da filmografia de Anderson e se coloca ao lado de Pecadores como os melhores filmes do ano. Não seria surpresa se a obra finalmente garantisse ao diretor um reconhecimento que há anos lhe escapa.
Uma Batalha Após a Outra chega nesta quinta feira, 25 de setembro, aos cinemas.