Desde sua estreia, Bailarina prometia mergulhar em um novo cenário do universo de John Wick, explorando a história de Eve Macarro e seu caminho de vingança contra o enigmático Chanceler.
Com Ana de Armas no papel principal e participações pontuais de personagens já conhecidos, a produção parecia ter todos os elementos certos. No entanto, por trás das boas intenções, o longa acumula erros difíceis de ignorar.
Com roteiro assinado por Shay Hatten e direção de Len Wiseman, Bailarina se entrega a decisões confusas, reviravoltas forçadas e conveniências de roteiro que colocam em xeque até mesmo a coerência da franquia. A seguir, listamos os principais pontos que destoam e tiram o espectador da imersão.
A revelação da irmã não é aprofundada
A personagem Lena aparece brevemente como braço direito do vilão, apenas para, de repente, ser revelada como irmã de Eve. A ideia até teria potencial, mas a execução é apressada e mal construída.
Pouco se sabe sobre Lena até esse momento, e logo após a revelação, ela morre em um ataque ordenado pelo próprio Chanceler, encerrando o arco sem o menor desenvolvimento.
A velocidade com que tudo acontece tornou a reviravolta descartável. Faltou tempo de tela, peso emocional e conexão entre as personagens para que esse laço tivesse real impacto.
O treinamento sombrio que nunca é questionado
Uma das cenas mais simbólicas do longa mostra Eve sendo obrigada a montar uma arma para sobreviver a um teste. Ali, outra assassina diz ser ela “daqui a dez anos” e sugere que a Diretora, na verdade, destrói todos que cria. Essa crítica ao sistema de formação da Ruska Roma, no entanto, não vai a lugar algum.
Mesmo depois de se rebelar e caçar o Chanceler, Eve nunca questiona diretamente a estrutura que a moldou. A crítica à manipulação de jovens órfãos para formar soldados é abandonada, dando lugar a mais sequências de ação com granadas e lança-chamas.
O vilão troca de personalidade sem aviso
Introduzido como alguém obcecado por destino e controle, o Chanceler abandona esse discurso logo após sua primeira cena. Ao longo do filme, ele passa a agir apenas como um vilão genérico, sem explorar a ideologia que o tornaria único dentro do universo John Wick.
Na prática, ele se torna apenas mais um obstáculo a ser eliminado, perdendo qualquer nuance que seu discurso inicial poderia ter sugerido. Sua morte, embora necessária para a resolução da história, carece de impacto justamente porque seu perfil nunca é aprofundado.
Nogi desaparece sem explicação
Nogi, interpretada por Sharon Duncan-Brewster, surge como mentora de Eve no início da história. Presente em boa parte do primeiro ato, ela é quem mais incentiva Eve a enfrentar os desafios físicos e mentais do treinamento.
Mas, ao passo que a protagonista desafia as ordens da Diretora, Nogi some completamente da narrativa. Sua ausência no final, inclusive no epílogo ambientado em Nova York, chama atenção,ainda mais considerando a relevância que ela teve no início.
Saltos temporais excessivos
Enquanto os filmes anteriores da franquia são conhecidos por suas tramas contínuas e ritmo acelerado, Bailarina adota uma estrutura que salta diversas vezesno tempo. Em menos de 30 minutos, o roteiro avança 12 anos e depois mais dois meses, prejudicando a construção da protagonista.
A sensação é de que o filme quer acelerar a transformação de Eve em assassina completa, mas perde a oportunidade de explorar com mais cuidado suas motivações e conflitos internos.
O embate sem propósito entre Wick e Eve
No terceiro ato, Wick e Eve se enfrentam em um duelo que parece mais preocupado em não desagradar nenhum fã do que em entregar algo relevante para a trama. O resultado é uma luta sem vencedor, sem consequência direta e com pouca emoção.
A cena se resume a um lembrete de que estamos no universo de John Wick, mas sem acrescentar nada à jornada de Eve. Para um encontro entre dois protagonistas da franquia, o confronto soa burocrático.