Controvérsias

A Odisseia: Explicamos as polêmicas filmagens do longa de Christopher Nolan

Filmagens no Saara Ocidental colocam novo filme de Nolan no centro de polêmica geopolítica

A Odisseia
A Odisseia

O aclamado cineasta Christopher Nolan está deixando seus fãs ansiosos com a grandiosidade da produção do seu próximo filme, A Odisseia. O longa será filmado inteiramente em IMAX e conta com um elenco estelar formado por Matt Damon, Tom Holland, Zendaya, Robert Pattinson, Charlize Theron, Anne Hathaway, Lupita Nyong’o, Jon Bernthal, Mia Goth, John Leguizamo e mais. A trama adapta o clássico da literatura homônimo escrito por Homero e acompanhará a jornada de Odisseu (Matt Damon) e o seu retorno à sua casa, na ilha de Ítaca, 10 anos após a Guerra de Troia.

Porém, conforme relata o Deadline, Nolan tem enfrentado alguns entraves com as filmagens de A Odisseia. Isso porque uma das locações é o Saara Ocidental, perto da cidade de Dakhla – um local marcado por conflitos políticos. Em 1963, esta área foi declarada um “território não autônomo” pelas Nações Unidas. A soberania do Saara Ocidental tem sido questionada há muito tempo, já o Marrocos fez suas instalações militares na região, mas não foi reconhecido internacionalmente como o governante legítimo da área. Ou seja, a população nativa saarauí está sendo reprimida.

Recentemente, os Estados Unidos e o Reino Unido alegaram que o Saara Ocidental faz parte do Marrocos. Grandes estúdios cinematográficos americanos e britânicos têm até negociado com o governo marroquino para filmar lá, gerando polêmica e uma aprovação tácita da ocupação marroquina da região. Agora, ao filmar A Odisseia no Saara Ocidental, Nolan deu credibilidade à ocupação militar e à opressão e ao apagamento do povo saarauí.

O Saara Ocidental é uma área disputada do norte da África

Esta não é a primeira produção a filmar no Saara Ocidental, já que a série cancelada A Roda do Tempo, do Prime Video, também fez isso. No entanto, a diretoria do Festival Internacional de Cinema do Saara Ocidental (ou FiSahara) divulgou um comunicado destacando a preocupação de escolher essa região como locação. Confira abaixo!

“Dakhla não é apenas um belo local com dunas de areia cinematográficas. É, antes de tudo, uma cidade ocupada e militarizada, cuja população indígena saarauí está sujeita à repressão brutal das forças de ocupação marroquinas. […] Ao filmar parte de “A Odisseia” em um território ocupado, considerado um “buraco negro de notícias” pelos Repórteres Sem Fronteiras, Nolan e sua equipe, talvez sem saber e sem querer, estão contribuindo para a repressão do povo saarauí pelo Marrocos.”

A FiSahara parece estar dando um voto de confiança a Nolan, reconhecendo que a situação do povo saarauí não é muito conhecida na mídia ocidental. Nolan talvez nem saiba que os saarauís não têm liberdade para fazer seus próprios filmes. Foi justamente isso que motivou a FiSahara a fazer a declaração. Ela continuou:

“Temos certeza de que, se eles compreendessem todas as implicações de filmar um filme de tão alto perfil em um território cujos povos indígenas não conseguem fazer seus próprios filmes sobre suas histórias sob ocupação, Nolan e sua equipe ficariam horrorizados. O Marrocos frequentemente apregoa as expressões culturais saarauís como exclusivamente marroquinas.  Eles criaram um festival de cinema em Dakhla para combater as nossas e produzir filmes de alto orçamento que retratam o Saara Ocidental como parte do Marrocos. No entanto, os saarauís que tentam fazer filmes sobre suas vidas são perseguidos e obrigados a trabalhar clandestinamente, correndo grande risco para si próprios e suas famílias.”

A história do Saara Ocidental

A situação do Saara Ocidental é a seguinte: a Espanha ocupou a região até sua retirada em 1976. Em seguida, o Marrocos anexou o país e o ocupa desde então. No entanto, a ONU menciona que o Marrocos não governa totalmente o Saara Ocidental, que ainda não possui governo próprio. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, nenhum repórter foi autorizado a entrar no território nos últimos nove anos, e surgiram alegações de que o governo marroquino está intimidando, vigiando e discriminando o povo saarauí.

A Anistia Internacional já denunciou a opressão contra o povo saarauí, e a Repórteres Sem Fronteiras disse que é praticamente impossível ir até lá para conseguir informações completas. Segundo eles, é como um deserto para jornalistas: ninguém consegue cobrir o que acontece de verdade.

O problema de filmar uma superprodução como A Odisseia no Saara Ocidental é que isso possa encobrir a repressão. Se um grande estúdio de Hollywood pode ignorar a opressão, alguns podem presumir que não é um problema tão grande.

No entanto, as filmagens em Dakhla duraram apenas quatro dias e Nolan já havia saído do território antes mesmo da declaração da FiSahara.

Vale destacar que a Universal e Nolan ainda não comentaram sobre o assunto.

A Odisseia estreia nos cinemas brasileiros no dia 16 de julho de 2026.