
Filmes que começam com um mistério forte e personagens intrigantes costumam prender o público até o último minuto. Às vezes, o que está em jogo não é apenas o suspense ou o horror, mas a sensação de que algo muito maior está prestes a ser revelado. Quando esse momento chega, tudo muda de perspectiva, e é justamente esse o tipo de virada que define o desfecho de A Hora do Mal.
Durante boa parte da trama, o filme conduz o espectador por uma narrativa fragmentada, dividida em capítulos que acompanham diferentes personagens. Aos poucos, esses fragmentos se conectam, formando um quadro cada vez mais perturbador, centrado no desaparecimento coletivo de uma turma do terceiro ano de uma escola primária.

O ritual de Gladys
Todos os alunos, com exceção de Alex, desapareceram de casa na mesma noite, às 2h17. Aos poucos, fica claro que tudo converge para Gladys, uma mulher que se apresenta como tia do garoto.
Por trás dessa fachada, ela esconde uma história marcada por bruxaria e manipulação. Ela mantém as crianças desaparecidas no porão da casa de Alex, alheias ao mundo, enquanto drena suas energias para manter-se viva.
Na sequência final, todos os envolvidos se reúnem na casa, mas o que poderia ser um confronto direto vira uma armadilha elaborada por Gladys. Ela transforma dois adultos, Paul e James, em instrumentos de ataque, prontos para reagir quando o círculo de sal no chão é rompido.
O caos se instala com Justine e Archer lutando por sobrevivência. A violência atinge níveis grotescos e o que parecia um resgate se transforma em carnificina. Alex, observador silencioso de tudo, é quem muda o rumo da história.
O garoto refaz o feitiço com um dos galhos usados por Gladys e, ao quebrar o objeto ritualístico, desfaz seu poder. A bruxa tenta fugir, mas é alcançada pelas crianças que estavam sob seu controle. Elas a destroçam, encerrando o ciclo de terror e libertando as vítimas.

O destino das crianças
Após a morte de Gladys, o estado das crianças e dos adultos afetados permanece incerto. A narradora da história, uma das sobreviventes, revela que se passaram dois anos desde o ocorrido. As crianças conseguiram voltar à rotina, mas muitas delas ainda estavam reaprendendo a falar.
Já os pais de Alex continuavam praticamente vegetativos, internados e sendo alimentados por sopa, assim como ele fazia durante o cativeiro. O dano causado pela magia de Gladys foi profundo e irreversível para alguns.
Isso se deve, principalmente, ao tempo prolongado em que os pais de Alex estiveram sob sua influência, funcionando como fonte principal de energia vital. As crianças, embora gravemente afetadas, tinham melhores chances de recuperação.

Quem era Gladys, afinal?
A verdadeira identidade de Gladys nunca é completamente revelada, mas as pistas indicam que ela era muito mais antiga do que parecia. Ao se apresentar como tia de Alex, ela dá uma versão dos fatos que não se sustenta. Em outro momento, é descrita como tia-avó da mãe do garoto, o que indica uma origem ainda mais distante.
Seus hábitos e vocabulário também sugerem que pertence a uma época anterior. Ao mencionar que o pai de Alex tem “um toque de consumpção”, ela usa um termo médico antigo, relacionado à tuberculose, que caiu em desuso há décadas. Esse detalhe, somado ao seu longo histórico de doença, pode indicar que Gladys sobrevive há muitas gerações através de rituais de roubo de energia vital.

O simbolismo por trás do horror
A Hora do Mal vai além da história de bruxaria. Seu roteiro fragmentado evidencia como os adultos agem movidos por interesses próprios, ignorando o impacto de suas escolhas nos outros. Justine, Archer, Paul e James têm atitudes questionáveis ao longo da trama, refletindo o tipo de comportamento que Gladys leva ao extremo.
A bruxa é a materialização de um egoísmo absoluto, capaz de destruir tudo ao redor para se manter viva, mas o filme aponta que ela não é a única. Vários personagens pressionam os outros, manipulam ou agem com total indiferença. É essa indiferença que se torna monstruosa.
A divisão entre adultos e crianças também é um elemento central. A narrativa é contada por uma menina, como se fosse uma lenda passada de geração em geração. Os adultos preferem esquecer o ocorrido, enquanto as crianças mantêm viva a memória do horror.
A Hora do Mal está em cartaz nos cinemas.