
Histórias de terror que se apresentam como “baseadas em fatos reais” costumam intrigar o público. Essa conexão com a realidade dá ao enredo um peso diferente, aumentando o impacto do que é mostrado. Em muitos casos, no entanto, essa relação com acontecimentos verdadeiros é mais uma ferramenta de narrativa do que um reflexo fiel da realidade.
A Hora do Mal, novo trabalho do diretor Zach Cregger, começa justamente dessa forma. A trama é introduzida pela narração de uma criança, que relata o desaparecimento em massa de uma turma inteira de alunos, tratado como um segredo guardado a sete chaves pela cidade.
O tom de confidência dá ao espectador a impressão de estar diante de um relato real, preservado apenas na memória de quem viveu ou ouviu falar dessa história.
Ficção com aparência de verdade
Apesar da atmosfera de relato verídico, não há qualquer registro de um caso como o apresentado no filme. Nunca houve um episódio documentado em que dezenas de crianças tenham deixado suas casas simultaneamente no meio da noite, muito menos pelas razões sobrenaturais sugeridas no roteiro.
O próprio filme explica que a polícia teria abafado o caso por vergonha e para ocultar elementos inexplicáveis. Esse recurso de roteiro remete a estratégias já usadas no cinema, como em A Bruxa de Blair, que explorou o mistério e a falta de provas para criar uma sensação de autenticidade.
Ainda assim, apesar de não passar de uma ficção, algumas das situações mostradas dialogam com tragédias reais, como episódios de violência em escolas nos Estados Unidos. A ideia de uma comunidade devastada pela perda repentina de crianças estabelece essa conexão indireta, reforçada pelo próprio título original, Weapons (“armas”).
A influência de experiências pessoais
Em entrevistas, Zach Cregger revelou que parte da motivação para escrever o roteiro veio de um luto pessoal. Ele perdeu um amigo próximo de forma repentina e começou a desenvolver a história como forma de processar o impacto dessa perda.
Essas referências pessoais são perceptíveis nas relações e no comportamento dos personagens, que agem impulsionados por sentimentos extremos. O arco de Alex, por exemplo, incorpora metáforas ligadas ao alcoolismo, outra influência vinda da história familiar do diretor.
Além da experiência pessoal e de observações sobre tragédias comuns na vida real, A Hora do Mal também foi moldado por influências cinematográficas. Cregger cita Magnolia, de Paul Thomas Anderson, como uma das maiores referências durante a escrita do roteiro.
O resultado é um filme que não se apoia em um caso real específico, mas que carrega “sementes” de verdade ao longo de sua narrativa. As emoções são autênticas, mesmo que os eventos não tenham acontecido.
A Hora do Mal está em cartaz nos cinemas.