
A Fera Interior é um filme de terror que estreou no catálogo do Prime Video recentemente. Estrelado por Kit Harington, Caoilinn Springall, Ashleigh Cummings e James Cosmo, a produção acompanha Willow (Springall), uma menina de dez anos, que começa a questionar sua vida incomum dentro da fortificada casa de sua família. Ela descobre que uma vez ao mês, seu pai Noah (Harington) se transforma em monstro e precisa lidar com essa dura realidade até partir para uma decisão que a sua mãe nunca foi capaz de tomar.
O filme não foi tão bem recebido pela crítica e pelo público. Por exemplo, no Rotten Tomatoes, a aprovação de ambos gira em torno de 40%.
Se você assistiu A Fera Interior e quer mais detalhes sobre o final, está no lugar certo. Continue lendo para descobrir como termina o filme.
O final de A Fera Interior
O avô de Willow, Waylon (Cosmo) fica para trás e fecha o portão da fazenda para permitir que ela e Imogen (Cummings) fujam, e elas chegam à floresta. Contudo, enquanto procuram um caminho seguro, uma versão lobisomem de Noah aparece, pega Willow e a carrega para seu esconderijo, e Imogen implora que ele a solte.
Imogen abraça o lobo e tenta acalmá-lo para que Willow possa conseguir se soltar. No entanto, Noah se transforma no lobo perigoso novamente e ataca Imogen, além de derrubar acidentalmente uma lanterna, dando início a um incêndio.
No final, Willow toma uma atitude drástica: ela usa seu tanque de oxigênio para incendiar Noah e, algum tempo depois, quando Imogen e Willow se preparam para deixar sua casa, Willow tem flashbacks de memórias de Noah. Depois disso, é revelado que Noah não é um realmente lobisomem, mas apenas um homem normal atacando Imogen enquanto Willow assiste em lágrimas. Ele a chama de “monstrinho” e é nesse ponto que o filme termina.
O que realmente significa o final de A Fera Interior
A verdade é que tudo não passava de uma imaginação de Willow sobre o fato de Noah se transformar em um monstro. Ela criou essa projeção para lidar com os abusos e a violência que seu pai cometia contra sua mãe Imogen.
Um exemplo de violência doméstica que aconteceu no filme foi quando Imogen usa secretamente um vestido bonito escondido em seu carro e Willow observa hematomas em sua mãe. Noah começa a pensar que Imogen está traindo ele com alguém pelo fato de estar bem arrumada e aparece gritando com ela. Do quarto de Willow, dá até para ouvir Noah se desculpando como se tivesse acabado de bater nela.
Com Willow presenciando isso, ela criou essa fantasia sobre seu pai ser um lobisomem, devido à agressividade e brutalidade de Noah em suas ações. Na realidade, ele é um pai abusivo. A Fera Interior confirma mais ainda que seu pai não é literalmente um monstro quando Willow aparece lendo “Caninos Brancos”, o que ajuda a reforçar essa imaginação.
Não sabemos exatamente o que aconteceu naquela noite, mas podemos fazer suposições. Provavelmente, Noah voltou para casa furioso. A situação ficou tão grave que Willow e Imogen temeram que ele pudesse matá-las. Tentaram escapar, mas isso levou Noah a espancar Imogen a ponto de Willow provavelmente ter que matá-lo para mantê-la viva.
Vale destacar também que as noites em que Noah bebe são as noites em que sua raiva e fúria se tornam intensas que precisam mantê-lo longe. O filme também sugere que ele mata e fere animais para “descontar” a sua raiva. Assim, Noah é um homem excessivamente violento.
A imagem final de Noah o faz parecer embriagado, e o alcoolismo pode, de fato, ser parte de sua doença e transformação monstruosa. Mas o álcool não justifica suas atitudes, ele só acentua isso, já que Noah já foi visto com comportamentos violentos quando estava sóbrio.
A perspectiva de Willow
O filme se passa por meio da perspectiva de Willow, só nos é mostrado o que a criança sabe e isso não significa que seja toda a verdade. Desse modo, nunca sabemos o que realmente está de fato acontecendo, pois pode ser que ela interprete mal.
A Fera Interior deixa claro, desde o início, que Willow tem uma imaginação fértil. Ela é frequentemente vista lendo e brincando com sua miniatura de brinquedo da casa. Sua imaginação a ajuda a criar uma visão fantástica do mundo: seu pai não é abusivo, mas um homem que é vítima do lobisomem que vive dentro dele. Willow só para de fingir depois que tudo acontece, e ela não consegue mais escapar da realidade do abuso e da crueldade de seu pai. Sua imaginação não consegue protegê-la dessa realidade.
Um exemplo de como Willow interpreta os acontecimentos de maneira diferente é quando Noah aparece dizendo “Nada muda” à Imogen, e Willow vê isso como um gesto de amor. Na realidade, é uma maneira de Noah controlar Imogen, fazendo-a concordar em não deixá-lo.
Em uma entrevista ao Eye For Film, o diretor de A Fera Interior, Alexander J. Farrell, explicou como a imaginação (de Willow e dos espectadores) é parte crucial para a história do filme: “E é por isso que não queríamos revelar o monstro antes do final, porque a imaginação é muito mais poderosa do que qualquer coisa que seríamos capazes de criar. Então, muito deste filme é deixado à imaginação e muito disso é interpretação, especialmente para Willow, e é aí que reside o horror neste filme.”
Logo, a imaginação de Willow amplifica a tensão da história. Isso porque os espectadores acompanham os acontecimentos de acordo com o que ela está pensando/imaginando e sentem as mesmas emoções que ela. Ela é uma criança assustada e seu medo contagia o público.
Os personagens e suas prisões emocionais
Todos os personagens de A Fera Interior estão presos no sentido emocional. Waylon está preso porque não consegue fazer com que sua filha saia da situação abusiva e quer protegê-la. Já Imogen está presa à Noah e não consegue deixá-lo, pode ser que seja por medo, lealdade ou por amor mesmo. Já Willow está presa nesta casa com seus pais e também tem algumas limitações devido ao seu estado de saúde.
E Noah está preso à esta fera que vive dentro dele. Ele sabe que é um monstro, mas não consegue se conter nem ter coragem de deixar sua família.
Em entrevista ao Film Review Daily, Alexander J. Farrell destaca um fato interessante: sobre como muitos filmes de monstros se concentram em deixá-los afastados. Em A Fera Interior ocorre justamente o contrário, porque o monstro está dentro de casa. Está dentro de muitos.
O que explica a natureza abusiva de Noah é porque que acometeu toda a sua família: desde seu avô até seus pais. Então, é como se ele tivesse que, mesmo sem querer e involuntariamente, repetindo essas atitudes.
O filme termina com Noah chamando Willow de “monstrinho”. E agora, depois das reflexões desta matéria, vocês devem se perguntar: ela repetirá o ciclo? Se tornará também uma pessoa violenta? Não necessariamente. Inicialmente, pode ser difícil lidar com sua raiva quando crescer devido à lembranças recentes de sua memória, porque aquela escuridão que existe dentro de Noah ainda pode viver dentro dela. No entanto, isso não significa que ela repetirá o ciclo. Ela apenas terá que lutar muito para não deixar que sua “fera” sobressaia em relação à sua personalidade normal.
Kit Harington e Caoilinn Springall entregam atuações excepcionais em A Fera Interior, filme de terror imperdível do Prime Video, que já está disponível no catálogo.