Entenda

A cena polêmica do Superman que nunca será feita por James Gunn

James Gunn resgata o clima da Era de Prata, mas evita elementos controversos

A cena polêmica do Superman que nunca será feita por James Gunn

Ao apostar em um novo tom para o DCU, James Gunn resgatou elementos da Era de Prata dos quadrinhos e deu nova vida ao Superman. Com um herói mais leve, expressivo e menos sisudo, o diretor afastou de vez o estilo sombrio do antigo universo compartilhado e abriu espaço para contar histórias com mais humanidade. No entanto, nem toda referência à fase clássica dos quadrinhos deve ser trazida de volta.

Entre as ideias que provavelmente ficarão de fora das telonas, uma das mais controversas é o uso da kryptonita rosa, uma variante criada nos anos 2000 como uma paródia das loucuras da Era de Prata, mas que hoje seria recebida com forte resistência. A inclusão desse elemento nos filmes modernos é tão improvável quanto desnecessária, mesmo para um diretor que gosta de se aventurar por lados menos explorados dos quadrinhos.

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Kryptonita rosa e a herança polêmica dos anos 2000

A kryptonita é uma das fraquezas mais conhecidas do Superman, mas seu surgimento nos quadrinhos aconteceu tardiamente. A primeira aparição foi em um programa de rádio em 1943 e a versão verde se consolidou apenas nos anos 1950. A partir daí, surgiram diversas variações do mineral, cada uma com um efeito diferente, como a dourada, que retira os poderes do herói, e a vermelha, com efeitos imprevisíveis.

No auge da Era de Prata, esse tipo de criatividade era comum. Havia kryptonita que fazia o Superman crescer um terceiro olho, outra que o tornava covarde e até uma que dava superpoderes a humanos comuns. Mas em 2003, o roteirista Peter David resolveu brincar com esse passado exagerado criando a kryptonita rosa. Em uma edição da Supergirl, ela é citada por Lois Lane, que comenta o comportamento estranho do Superman após o contato com o cristal.

A piada fica clara quando ele elogia o visual de Jimmy Olsen e fala sobre decoração com um tom afetado. A insinuação é de que o Superman teria mudado de orientação sexual temporariamente, algo que hoje seria visto como uma caricatura ofensiva. Mesmo sendo uma referência a um filme de comédia dos anos 90, a cena não envelheceu bem.

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James Gunn não deve repetir os erros do passado

Apesar de Gunn ser um entusiasta das histórias malucas e dos elementos menos conhecidos da DC, no cenário atual, uma representação estereotipada como essa dificilmente passaria despercebida.

O mais provável é que, se o tema for abordado em algum momento, seja feito de forma irônica ou com um novo significado. Em vez de afetar a orientação sexual do Superman, a kryptonita rosa poderia ser reinterpretada como símbolo de diversidade ou transformação.

Vale lembrar que a ideia já foi reaproveitada em um curta animado de 2017, onde a kryptonita rosa troca o sexo do kryptoniano, em vez de alterar seu comportamento. Ainda assim, o tema continua sensível e deve ser evitado nos filmes principais do DCU.

Uma abordagem atual para um universo em reconstrução

Gunn tem demonstrado interesse em resgatar personagens e conceitos obscuros dos quadrinhos, mas também tem mostrado discernimento na hora de selecionar o que realmente funciona no contexto atual. A aposta em um Superman mais acessível e otimista é prova disso.

Revisitar piadas antigas pode parecer tentador, especialmente para um diretor que se apoia na metalinguagem e na nostalgia, mas o momento atual exige mais responsabilidade narrativa. Uma nova fase para o Superman também pede uma nova visão de mundo.

A kryptonita rosa talvez continue existindo nas HQs como uma curiosidade do passado, mas dificilmente encontrará espaço nos filmes. O futuro do DCU está mais interessado em construir personagens com complexidade real, deixando para trás os clichês que não fazem mais sentido.