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Os Serviços de Streaming Estão Ajudando os Filmes Nacionais?

Não sai barato assinar todos os streamings no Brasil
Não sai barato assinar todos os streamings no Brasil

As plataformas de streaming vieram para ficar e os brasileiros são doidos por elas. Segundo dados do ano passado, 85% dos brasileiros gastam R$100 por mês na assinatura destes serviços. Embora a Netflix seja ainda a plataforma mais famosa, já faz tempo que não está sozinha, competindo com nomes como Disney+, HBO Max e a brasileira Globoplay. 

De fato, o número de espectadores ligados nas telinhas é bem maior do que o das telonas, já que só 14% dos brasileiros vão ao cinema regularmente. A influência dos streamings vai além de seus filmes e séries, com franquias famosas virando temas de jogos e vice-versa, como o review atesta. Com tantos assinantes de streaming, é inegável que o público nacional tem consumido mais filmes do que nunca. Mas, será que os impactos no cinema nacional são tão positivos assim? Saiba mais aqui.

Versão Brasileira

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A resposta mais curta para a pergunta acima é “sim”, mas o enredo é mais complexo. Colocar um filme no cinema pode custar bem caro aos produtores. Somados, os custos de produção, direitos autorais, espaços de exibição e impostos, podem ficar na casa dos milhões de reais. Ainda que o mercado nacional esteja aquecido, motivados pelo sucesso de Ainda Estou Aqui, o preço ainda é impagável para a maioria das produções. 

Neste contexto, as plataformas de streaming promovem a democratização da produção e distribuição destes filmes para plateias nacionais e internacionais. Mesmo assim, a dificuldade de colocar um filme brasileiro nas telonas revela problemas estruturais no setor, como falta de investimento. Enquanto o problema persiste nas salas de cinema, os serviços de streaming ganham protagonismo no setor e, para muitos atores, são os herois desta história. 

E são mesmo. De olho na crescente audiência brasileira, empresas como Netflix e Amazon Prime investem em produções 100% nacionais, ou dão vazão para obras já prontas. Durante os terríveis anos da pandemia, que impactou duramente o setor, a Amazon Prime lançou um filme nacional novo todas as quintas-feiras. Não fosse por isso, produções como A Gruta (com Carolina Ferraz), No Gogó do Paulinho (história do personagem Paulinho Gogó) e Carlinhos e Carlão (com Luis Lobianco e Luis Miranda) talvez nunca tivessem saído da gaveta. 

Embora estejam felizes com a oportunidade, os atores seguem insatisfeitos com o panorama. Para Luis Miranda, a migração para o streaming é mais um “ato de resistência” do cinema nacional, que ainda luta pela sobrevivência. A Netflix também tem desempenhado um papel importante na absorção de produções independentes, que teriam pouco espaço no mainstream. Longa-metragens premiados internacionalmente, como Ontem Havia Coisas Estranhas no Céu, dirigido por Bruno Risas, jamais chegou aos cinemas do país, mas está lá para os assinantes da plataforma.  

Desafios

Apesar da oportunidade, nem tudo são flores no mundo do streaming. Produzir filmes e séries para estas plataformas pode custar mais caro do que as produções tradicionais, já que é preciso mais tecnologia e pessoal especializado no setor. Ou seja, financiar uma nova produção segue sendo um problema para produtoras pequenas. 

Além disso, a competição é acirradíssima, já as produções nacionais precisam disputar espaço com inúmeros títulos estrangeiros. Em alguns casos, as próprias plataformas investem e nestas produções, mas o setor ainda carece de mais fontes de financiamento para garantir a viabilidade de novos projetos. 

Como a maior parte dos streamings vem de fora, a maior parte da produção exibida nelas, também. Para especialistas no setor, uma saída seria criação de uma cota de filmes nacionais que estas plataformas precisam incluir para serem autorizadas a operar por aqui. 

Cenas dos Próximos Capítulos

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No ano passado, um projeto de lei neste sentido foi aprovado no Senado, mas ainda aguarda tramitação na Câmara. Streamings com 2 mil títulos devem incluir ao menos 100 produções nacionais, as que tiverem 7 mil títulos devem incluir 300 produções. 

Além disso, o projeto prevê a criação de uma taxa de 3% da receita bruta dos streamings para o Condecine (Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional). Atualmente, nenhuma delas paga esta contribuição. 

Paralelamente, o Ministério da Cultura e a Ancine (Agência Nacional do Cinema) anunciaram investimentos de R$250 milhões em chamadas públicas para o financiamento de novas produções. O Governo Federal também está pronto para entrar em cena com sua própria plataforma, 100% gratuita. Segundo o Ministério da Cultura, o Streaming Brás deverá entrar no ar ainda no segundo semestre de 2025. 

Naturalmente, o Streaming Brás será voltado inteiramente para produções nacionais e já ganhou até um apelido: Lulaflix. O investimento no novo canal digital chega a R$4,2 milhões e deverá contar com 447 obras audiovisuais logo de cara.

Inicialmente, boa parte do acervo será composto por obras que o Governo Federal já detém os direitos, mas incluirá também produções atuais, como o aclamado Ainda Estou Aqui, de Walter Salles; o primeiro filme brasileiro a ganhar um Oscar. Assim como a Disney+, Netflix e Amazon Prime, o streaming brazuca também oferecerá serviços on-demand. 

 
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