Quebra de regra

Série de It: A Coisa quebra regra importante de Stephen King que os filmes tentaram consertar

Conheça a série de It que desafia as próprias regras de Stephen King

Derry guarda horrores que você nunca viu
Derry guarda horrores que você nunca viu

Quando pensamos em terror, alguns nomes vêm à mente quase automaticamente. Stephen King é um deles. Desde os anos 70, o autor transformou simples histórias de medo em fenômenos mundiais, conquistando tanto leitores quanto espectadores de cinema e TV. E agora, com a série It: Bem-vindo a Derry, prequela de It: A Coisa, a promessa é de mergulhar ainda mais fundo no universo criado por King. 

Mas há um detalhe curioso: a produção está quebrando uma das principais regras que o próprio autor estabeleceu para escrever boas histórias, e os filmes tentaram consertar. Isso levanta uma pergunta irresistível: será que o excesso vai jogar contra ou a favor dessa nova adaptação?

Stephen King
Stephen King

Stephen King e a famosa regra de “matar seus queridinhos”

Stephen King nunca escondeu seus segredos de escrita. No livro Sobre a Escrita – A Arte em Memórias, ele revela 20 regras que acredita serem essenciais para qualquer escritor. Entre elas, uma se destaca: “kill your darlings”, ou em bom português, “mate seus queridinhos”. Isso significa cortar sem dó qualquer trecho que não sirva diretamente à trama, mesmo que o autor adore aquela parte.

Essa prática ajuda a manter a narrativa enxuta e envolvente, sem enrolações ou divagações desnecessárias. O curioso é que, apesar de defender essa regra, Stephen King frequentemente a ignora em suas próprias obras. Seus livros são conhecidos pela riqueza de detalhes, personagens secundários cativantes e um universo interconectado que fascina, e às vezes cansa os leitores. It: A Coisa é um exemplo clássico disso: apesar de ser amado por milhões, o livro poderia facilmente perder cem páginas sem prejudicar a trama central.

Pennywise
Pennywise

Como os filmes de It tentaram resolver os excessos do livro

Quando o livro chegou às telas, primeiro na minissérie de 1990 e depois nos filmes de 2017 e 2019, os roteiristas precisaram fazer escolhas difíceis. Muitas cenas e subtramas foram simplesmente cortadas. Algumas por bom senso (como a polêmica cena entre os pré-adolescentes no esgoto), outras por necessidade narrativa, afinal, não dá para adaptar tudo de um calhamaço de mais de mil páginas em apenas algumas horas.

Os filmes focaram no essencial: o confronto entre o Clube dos Otários e Pennywise. Cortaram cenas em que o palhaço aparece em formas bizarras, como quando surge na lua para Henry Bowers, e reduziram a presença dos elementos do multiverso Stephen King, como a tartaruga cósmica Maturin. A escolha foi clara: menos distrações, mais impacto. Mas com a nova série, a história promete seguir um caminho bem diferente.

IT: Bem-vindos a Derry
IT: Bem-vindos a Derry

It: Bem-vindo a Derry aposta justamente no que os filmes evitaram

A série It: Bem-vindo a Derry não quer só repetir o que já vimos. Ambientada antes dos eventos do livro, ela explora as origens sombrias de Pennywise e os horrores antigos da cidade. Vamos conhecer o Black Spot, clube frequentado por negros nos anos 60 que foi incendiado por supremacistas brancos, um episódio pouco abordado nas adaptações anteriores. Também veremos o massacre do bando Bradley em 1935 e a explosão das fundições Kitchener em 1908, tragédias que Pennywise influenciou indiretamente.

Esses eventos fazem parte das chamadas “interlúdios” do livro, capítulos que trazem histórias paralelas à trama principal. São momentos que muitos leitores consideram desnecessários, mas que aprofundam a mitologia de Derry. Ou seja, a série está pegando justamente os “queridinhos” que Stephen King deveria ter cortado, segundo sua própria regra, e transformando-os em protagonistas.

Welcome to Derry promete mostrar que, no universo de Stephen King, até os segredos esquecidos podem ser mais assustadores que o próprio Pennywise
Welcome to Derry promete mostrar que, no universo de Stephen King, até os segredos esquecidos podem ser mais assustadores que o próprio Pennywise

O risco de transformar o desnecessário em estrela

Ao investir nessas histórias secundárias, It: Bem-vindo a Derry corre um risco: o de perder o ritmo. Em vez de focar no confronto direto com Pennywise, a série promete expandir os detalhes da cidade e seus horrores passados. Para alguns fãs, isso é empolgante, afinal, quem não quer mergulhar de cabeça no universo King? Para outros, pode ser um convite ao tédio, principalmente se o roteiro não conseguir equilibrar desenvolvimento e tensão.

Por outro lado, como a série terá temporadas e não precisa condensar tudo em duas horas, há espaço para respirar. As tragédias de Derry são mais do que pano de fundo: são parte da essência do mal que habita ali. Pennywise não só devora crianças, ele corrói a alma da cidade, espalhando ódio, medo e violência. Mostrar isso pode enriquecer a história, ou transformá-la em um amontoado de episódios desconectados.

Pennywise é o grande antagonista de It: A Coisa
Nem Stephen King ousaria cortar essa parte

O que esperar de Pennywise e do tom sombrio da série

Algo que anima os fãs é o retorno de Bill Skarsgård como Pennywise. Seu palhaço assustador já virou ícone do terror moderno, e vê-lo novamente em ação é motivo suficiente para dar uma chance à série. Além disso, há a expectativa de que It:Bem-vindo a Derry apresente finalmente o lado mais cósmico do vilão e a verdadeira dimensão de seu poder.

A cidade de Derry também deve ganhar um papel quase vivo na trama. Nos livros, ela não é apenas cenário, mas um personagem: uma cidade adoecida, indiferente às tragédias que testemunha. Os adultos de Derry são passivos, muitas vezes cruéis, permitindo que o mal prospere. Explorar isso ao longo de várias épocas pode trazer um peso emocional que os filmes não conseguiram capturar.

Bem-vindo a Derry: onde o terror nasceu
Bem-vindo a Derry: onde o terror nasceu

Vai valer a pena acompanhar It: Bem-vindo a Derry?

Ainda não sabemos exatamente como será a recepção de It: Bem-vindo a Derry. O público pode se encantar com a riqueza de detalhes e o mergulho no passado sombrio da cidade ou achar tudo um exagero desnecessário. Mas uma coisa é certa: a série promete quebrar a regra de ouro de Stephen King e abraçar justamente os pedaços da história que ele mesmo recomendaria cortar.

Para os fãs de carteirinha, isso pode ser um prato cheio. Para os mais casuais, talvez soe como um teste de paciência. No fim das contas, tudo vai depender de como os criadores conseguirão equilibrar lore e narrativa. Mas uma coisa já é certa: Pennywise voltou, e ele está pronto para nos lembrar que o medo nunca envelhece.

Bem-Vindos à Derry estreia em breve na Max.


 

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