
A primeira temporada de Pacificador conquistou o público ao dar profundidade inesperada a um personagem secundário de O Esquadrão Suicida. Combinando humor caótico, críticas sociais e sequências de ação frenéticas, a série apresentou um retrato complexo e dolorido de Christopher Smith. Apesar do sucesso, no entanto, um ponto específico se tornou alvo constante de discussão entre os fãs.
Um dos maiores buracos da série
A incoerência estava na figura de Auggie Smith, pai de Chris. Representado como um homem racista, agressivo e retrógrado, ele ainda assim era descrito como um gênio da tecnologia, responsável por criar capacetes altamente avançados e um dispositivo de armazenamento interdimensional.
No quarto episódio da nova temporada, a série finalmente enfrenta esse buraco narrativo de forma direta ao mostra um flashback ambientado trinta anos antes, quando Auggie e seus filhos estão caçando na floresta.
Ao atingir uma criatura estranha, eles descobrem um alienígena ferido tentando atravessar um portal dimensional. O ser carregava uma maleta metálica com tecnologia que, mais tarde, se revelaria como a chave para o famoso compartimento interdimensional.
Flashback corrige erro do passado e redefine Auggie
A partir dessa descoberta, Auggie obriga os filhos a manipularem o dispositivo alienígena até descobrirem seu funcionamento. Chris, já adulto, admite que nunca entendeu a ciência por trás daquilo, mas aprendeu que a sequência certa de comandos criava uma fenda dimensional capaz de ser transportada. Com isso, a série elimina a ideia de que Auggie fosse um inventor brilhante, ele apenas se aproveitou de uma tecnologia que caiu em suas mãos.
Essa explicação não só resolve um problema de coerência da primeira temporada, como também reforça o perfil do personagem: um homem oportunista, que nunca teve escrúpulos para explorar os próprios filhos. Ao abandonar a noção de genialidade e apostar na sorte (e crueldade), a narrativa ganha contornos mais alinhados com a construção original de Auggie.
Ainda assim, a nova temporada deixa outras questões em aberto. Durante uma conversa com Leota Adebayo, Chris é questionado sobre como o pai teria desenvolvido os capacetes e o traje do Dragão Branco. Ele evita a resposta, dizendo apenas: “É complicado.”, sugerindo que a origem dessa tecnologia ainda será revelada.
Uma possível explicação é que Auggie tenha encontrado mais recursos dentro da mesma dimensão acessada pela maleta. Com mais de cem portais conectando diferentes realidades, é plausível que esquemas, ferramentas ou até mesmo outras criaturas tenham sido usadas como fonte para os equipamentos.
Universo compartilhado, mas com narrativas independentes
Pacificador é a ponte entre o antigo DCEU e o novo universo criativo comandado por James Gunn. Como única produção a fazer parte das duas fases, a série assume o papel de elo narrativo e simbólico dessa mudança, e vem ‘consertando’ erros em aberto herdados da última fase. No próprio primeiro episódio da nova temporada, elementos anteriores sofrem um retcon para alinhar a trama ao futuro do DCU.
James Gunn, agora à frente do novo universo compartilhado da DC, tem reforçado que a proposta é criar uma franquia coesa, mas com espaço para que cada obra funcione sozinha. A estrutura se inspira nas HQs, onde diferentes linhas editoriais coexistem dentro de uma cronologia maior, mas mantêm identidade própria.
O quarto episódio da temporada é um exemplo claro de como a série tem como missão corrigir erros e expandir seu universo sem perder o foco no personagem. Ao corrigir falhas, preparar o terreno para novos mistérios e se integrar ao novo DCU, Pacificador reafirma seu papel central nesse novo momento do estúdio.