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Pacificador conserta os maiores erros do MCU em apenas dois episódios

Segunda temporada da série evidencia os erros da Marvel e marca o amadurecimento do DCU.

Pacificador conserta os maiores erros do MCU em apenas dois episódios

Desde que James Gunn assumiu a liderança criativa do novo universo da DC, a proposta sempre foi clara: cada obra tem liberdade para explorar seu próprio tom e personagens, sem precisar seguir uma cartilha única. A série Pacificador, que acaba de estrear sua segunda temporada, talvez seja o melhor exemplo de como essa abordagem pode render frutos narrativos ousados e relevantes.

Diferente do que vimos por anos no Universo Cinematográfico da Marvel, onde a maior parte das produções seguiam o mesmo tom, o DCU começou já quebrando essa lógica. Pacificador, junto de Comandos das Criaturas e Superman, integra uma nova fase em que comédia, drama, violência e fantasia convivem sem perder o elo com o universo maior.

O segundo episódio da nova temporada deixa isso evidente. Depois de matar acidentalmente uma variante de si mesmo, Chris Smith decide esconder o corpo com ajuda de Vigilante e assume a identidade de sua versão alternativa. Essa situação por si só já traz um peso narrativo mais profundo, mas o jeito como ela é feita é o que muda tudo.

Violência e identidade moldam o DCU

A carta de liberdade dessa nova fase se dá por definitiva na sequência em que Chris desmembra e incinera sua variante. Esse momento não apenas sustenta a classificação indicativa da série, como consolida uma liberdade criativa que o MCU só começou a experimentar recentemente.

A partir disso, o personagem de John Cena toma posse do celular de sua variante e se reconecta com a Emilia Harcourt de outra realidade, criando uma relação emocional que não lhe pertence. O peso da perda, a culpa pelo assassinato e a vontade de resgatar uma versão de si mesmo através de outra linha do tempo tornam essa nova fase ainda mais complexa e instigante.

Ao assumir a identidade de sua variante e começar a atuar em outra linha do tempo, ele coloca em movimento uma série de eventos com potencial destrutivo. A série não trata o multiverso como um truque visual ou fanservice, mas como parte integral da narrativa. As ações do protagonista têm consequências e interferem diretamente em outras realidades.

Isso contrasta com os anos em que o MCU hesitou em se comprometer com realidades alternativas de maneira consistente. Mesmo com Doutor Estranho e Loki abrindo portas, a lógica do multiverso só começou a afetar o centro das histórias com mais força recentemente.

Liberdade criativa desde o começo

Gunn tem insistido que o DCU não terá uma estética única. Cada projeto poderá ser sombrio, colorido, violento ou leve, desde que seja coerente com a história que deseja contar. Além disso, ele já deixou claro que cada produção tem a intenção de funcionar sozinha, sem precisar da contextualização das outras obras do universo.

Ainda que Guy Gardner e a Mulher-Gavião tenham sido apresentados em Superman, quem não assistiu ao filme vai conseguir entender a participação em Pacificador. É a mesma lógica das HQs sendo aplicada de forma literal: cada título pode funcionar de forma única, com suas características narrativas (um sendo trágico e sangrento, enquanto outro é leve e fantasioso), sem que isso comprometa o universo compartilhado.

Enquanto a Marvel levou 15 anos para abrir espaço para classificações mais adultas e, até hoje, não conseguiu estabelecer um multiverso coeso, o DCU parte dessa premissa desde o início. Pacificador é violento porque essa é a essência do personagem e da história que está sendo contada, e o multiverso existe porque faz parte da narrativa da série.

No fim das contas, o que James Gunn propõe é um universo coerente, mas não engessado. Ele, que por anos viveu dentro dos estúdios da Marvel, trouxe toda sua visão interna como experiência para consertar os erros cometidos há anos pelo MCU.