Quem diria que uma das histórias políticas mais insanas da história dos Estados Unidos viraria uma das séries mais comentadas da Netflix? Como um Relâmpago mistura drama, poder e tragédia real em uma trama que parece ficção, mas aconteceu de verdade. E o mais curioso: ela fala tanto sobre o passado quanto sobre o presente.

Um presidente improvável que nunca quis ser presidente
Em pleno século XIX, James Garfield (Michael Shannon) era apenas um congressista de Ohio, sem grandes pretensões políticas. Não fazia parte dos planos dele disputar a presidência, até que um discurso inflamado o colocou, sem querer, no centro do poder.
Essa ascensão meteórica, quase acidental, é um dos pontos mais fascinantes da história. Afinal, como alguém que nem sequer queria o cargo acabou eleito o 20º presidente dos Estados Unidos?
Garfield acreditava num governo justo e livre de corrupção, e isso o transformou em símbolo de esperança para uma geração cansada de jogos políticos. Mas será que ideais tão nobres sobrevivem em um sistema tão corrompido?

O homem que confundiu ambição com loucura
Enquanto Garfield lutava por uma política limpa, outro nome surgia, e não de forma heroica. Charles Guiteau (Matthew Macfadyen), um aspirante a político e escritor fracassado, acreditava que tinha sido “escolhido por Deus” para salvar o governo.
Delirante e obcecado, ele passou a enxergar Garfield como parte de seu destino pessoal. Quando suas ilusões não se concretizaram, a admiração se transformou em raiva.
Foi esse fanatismo cego que o levou a atirar no presidente em julho de 1881. Uma ironia cruel: Guiteau acreditava estar “protegendo” a nação. Mas, no fim, foi o responsável por um dos episódios mais trágicos da história americana.

Baseada em uma história real inacreditável
A série é inspirada no livro Destiny of the Republic, da autora Candice Millard, uma obra que mistura política, medicina e insanidade em um relato verídico que parece roteiro de cinema.
O criador da série, Mike Makowsky, chamou a história de “uma das mais absurdas e trágicas que já li”. E não é exagero. Entre atentados, disputas políticas e médicos mal preparados, a história real é tão chocante que dispensa qualquer ficção.
Garfield foi baleado, mas não morreu imediatamente. O que o matou, meses depois, foi a infecção causada pelos tratamentos da época, uma sequência de erros médicos que beira o absurdo. Como uma tragédia pode ser tão mal administrada a ponto de se tornar um espelho da incompetência humana?

Corrupção, poder e o preço da esperança
Além do assassinato, Como um Relâmpago mergulha no lado sujo da política americana. Garfield enfrentou uma elite política resistente às reformas e um sistema de apadrinhamento que trocava cargos por favores.
Essa luta entre mérito e corrupção continua incrivelmente atual. Assistir à série é quase como olhar para um espelho do nosso tempo, onde o poder ainda é moldado por ambição e vaidade.
E é justamente aí que a série brilha: ao mostrar que o idealismo pode ser tão perigoso quanto necessário. Afinal, o que acontece quando alguém tenta mudar um sistema que não quer ser mudado?

O choque entre fanatismo e idealismo
Makowsky constrói a narrativa como um duelo simbólico entre dois extremos: Garfield, o político idealista, e Guiteau, o fanático que acredita agir em nome de um “destino divino”.
O contraste é brutal, um homem guiado pela razão contra outro guiado pela loucura. Essa oposição transforma a série em algo mais do que um simples drama histórico: ela vira um retrato psicológico sobre poder, fé e delírio.
Será que os fanáticos de hoje não são herdeiros diretos desse mesmo tipo de obsessão? A linha que separa convicção e insanidade é mais fina do que parece.

Da tragédia à imortalidade
Garfield morreu antes de cumprir sequer um ano de mandato, mas sua breve passagem pela presidência deixou um legado de integridade que inspirou reformas e debates.
Seu nome foi esquecido por muitos, mas Como um Relâmpago devolve a ele algo raro: humanidade. A série o mostra não como mártir, mas como homem, cheio de falhas, coragem e contradições.
E é justamente isso que torna a história tão comovente: ela nos lembra que, mesmo diante da morte e do caos, ainda há quem tente fazer o certo. Ser idealista nunca foi tão perigoso, e tão necessário.
Como um Relâmpago está disponível na Netflix.

