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Crítica: Hedda reinventa obra clássica com luxo e atuação magnética de Tessa Thompson

Dirigido por Nia DaCosta, o filme reinventa a icônica Hedda Gabler em uma versão moderna, visualmente arrebatadora e emocionalmente instável

Crítica: Hedda reinventa obra clássica com luxo e atuação magnética de Tessa Thompson

No filme Hedda, a diretora Nia DaCosta — conhecida por A Lenda de Candyman e As Marvels — revisita um dos maiores clássicos da dramaturgia mundial, Hedda Gabler, de Henrik Ibsen, e o transforma em uma obra profundamente estilizada, provocante e sensual.

Ambientado na Inglaterra dos anos 1950, o filme substitui os salões vitorianos por um cenário elegante e sufocante, no qual a protagonista luta contra o peso das convenções sociais e de seus próprios desejos reprimidos.

A trama gira em torno de Hedda Tesman (Tessa Thompson), uma mulher inteligente, ambiciosa e profundamente entediada com seu casamento. Cercada por intelectuais, artistas e oportunistas, ela se vê presa a um mundo de aparências — um palco onde tenta manter o controle enquanto provoca, manipula e destrói aqueles que cruzam seu caminho.

DaCosta não busca reproduzir o texto de Ibsen com fidelidade literal, mas sim reinterpretá-lo como um drama psicológico de pulsação moderna, que alterna introspecção e espetáculo, culpa e libertação.

Direção ousada e estética impecável

A direção de Nia DaCosta é uma força em si. Ela faz de Hedda um filme de sensações, não apenas de palavras. A câmera se move com fluidez, captando cada suspiro e cada olhar de Tessa Thompson com uma intimidade quase teatral. A fotografia de Sean Bobbitt (12 Anos de Escravidão) é exuberante, mesclando o brilho dourado dos bailes e o vermelho intenso das paixões com sombras densas que parecem engolir os personagens.

A trilha sonora de Hildur Guðnadóttir, vencedora do Oscar por Coringa, amplia a tensão com composições que evocam tanto tragédia quanto sensualidade. O resultado é um drama luxuoso, denso e por vezes claustrofóbico, que transforma o lar de Hedda em um labirinto emocional.

Tessa Thompson brilha com intensidade devastadora

Em sua performance mais poderosa até hoje, Tessa Thompson interpreta Hedda como uma mulher dividida entre a frieza da manipulação e o desespero de uma alma que quer viver intensamente, mas não encontra espaço para isso. Sua atuação é magnética: cada gesto, sorriso e silêncio revela camadas de dor, orgulho e ironia.

Ao seu redor, o elenco complementa o caos emocional da protagonista. Nina Hoss entrega uma performance refinada como Eileen Lovborg, a intelectual que desperta a inveja e o fascínio de Hedda. Tom Hiddleston (em participação especial) surge como o marido conformado, cuja passividade apenas acentua o tédio e a revolta da esposa.

Entre o teatro e o delírio

Embora tecnicamente impecável, Hedda sofre com alguns excessos. O roteiro de DaCosta e Rowan Joffe se estende em monólogos simbólicos e sequências oníricas que, embora belas, diluem a força emocional da narrativa. Em certos momentos, o filme parece mais interessado em impressionar visualmente do que em aprofundar a complexidade psicológica da protagonista.

Ainda assim, a diretora consegue algo raro: transformar um clássico teatral em um filme de desejo, frustração e poder, mantendo sua essência trágica enquanto fala diretamente a uma nova geração.

Veredito

Hedda é um espetáculo visual e emocional. A versão de Nia DaCosta não busca reproduzir o texto de Ibsen, mas sim reimaginá-lo com energia, fúria e beleza. Com uma fotografia deslumbrante, direção confiante e uma atuação sublime de Tessa Thompson, o longa se torna uma experiência hipnótica — ainda que nem sempre equilibrada.

No fim, a nova Hedda é uma mulher em combustão: viva, contraditória e irresistivelmente perigosa.

Hedda está disponível no Prime Video.

Nota: ★★★☆☆ (3 de 5 estrelas)