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Crítica: Frankenstein (2025) é fábula sombria sobre criação, culpa e humanidade

Visualmente deslumbrante e emocionalmente devastador, o novo filme de Guillermo del Toro transforma o clássico de Mary Shelley em uma reflexão sobre paternidade e dor

Crítica: Frankenstein (2025) é fábula sombria sobre criação, culpa e humanidade

Guillermo del Toro finalmente realizou um sonho de mais de vinte anos com Frankenstein (2025), sua adaptação do romance de Mary Shelley que combina horror gótico, lirismo e tragédia existencial. O resultado é uma obra autoral, visualmente arrebatadora e emocionalmente intensa — que reafirma o diretor como um dos maiores contadores de histórias do cinema moderno.

Na trama, em uma Europa devastada pela guerra, o cientista Victor Frankenstein (Oscar Isaac) desafia os limites da natureza ao criar vida a partir da morte. O experimento, concebido como um triunfo da razão, transforma-se em um pesadelo quando a Criatura (Jacob Elordi) ganha consciência e exige do criador algo que ele nunca lhe deu: amor e responsabilidade.

A narrativa mantém o espírito original de Shelley, mas a lente de Del Toro desloca o foco do terror para a compaixão — o verdadeiro horror aqui não é a monstruosidade física, mas o abandono e a rejeição.

Frankenstein

O poder visual e a direção de Del Toro

O filme é um espetáculo estético. Del Toro constrói uma atmosfera gótica exuberante, com cenários detalhados, uso magistral de luz e sombra e efeitos práticos que evocam o cinema clássico. Cada quadro parece uma pintura sombria.

A fotografia alterna entre o frio da ciência e o calor da emoção, reforçando a dualidade central: a criação e a destruição coexistem na mesma alma. O design da criatura, interpretada com uma mistura rara de delicadeza e dor por Jacob Elordi, é um triunfo de maquiagem e performance.

Atuações e emoção

Oscar Isaac entrega um Victor Frankenstein multifacetado — ao mesmo tempo arrogante, frágil e assombrado por seu próprio ato. Jacob Elordi, por sua vez, oferece uma das interpretações mais humanas já vistas para a Criatura: vulnerável, poética e aterrorizante.

As interações entre os dois formam o coração do filme. Quando a Criatura questiona o criador sobre o motivo de sua existência, Del Toro traduz em imagens a pergunta que ecoa há séculos: o que significa ser humano?

Roteiro e ritmo

O roteiro, escrito pelo próprio Del Toro em parceria com Kim Morgan, aposta mais no drama existencial do que no terror explícito. É uma escolha ousada, que pode afastar quem espera sustos constantes, mas recompensa quem busca profundidade.

O terceiro ato, porém, sofre levemente com o excesso de grandiosidade visual e uma resolução um tanto acelerada — um pequeno deslize em uma narrativa que, até ali, mantinha o equilíbrio entre espetáculo e emoção.

Veredito

Frankenstein é uma experiência cinematográfica poderosa, uma obra que honra a literatura de Shelley e dialoga com as obsessões recorrentes de Del Toro — monstros que sentem, humanos que criam e destroem, amores condenados.

Mesmo com algumas passagens irregulares, é um filme de beleza rara e alma trágica, que reafirma a crença de que o horror mais profundo nasce daquilo que somos capazes de criar. Um espetáculo gótico, melancólico e humano — digno do melhor de Guillermo del Toro.

Nota: 8,5/10