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Crítica: Balada de Um Jogador é um retrato elegante da autodestruição

Colin Farrell brilha em um drama elegante e melancólico sobre vício e redenção

Crítica: Balada de Um Jogador é um retrato elegante da autodestruição

Em Balada de Um Jogador, o diretor Edward Berger — vencedor do Oscar por Nada de Novo no Front — entrega um drama elegante e melancólico sobre vício, culpa e redenção ambientado no universo cintilante e decadente dos cassinos de Macau.

Baseado no livro de Lawrence Osborne, o filme acompanha Lord Doyle (Colin Farrell), um ex-banqueiro britânico que, após perder tudo, foge para Macau em busca de anonimato e esquecimento.

Em meio ao brilho dos cassinos e à decadência de sua própria vida, Doyle passa os dias apostando fortunas em mesas de bacará, enquanto tenta se convencer de que ainda tem controle sobre o destino. Mas, como o próprio título sugere, ele é apenas mais um “pequeno jogador” — alguém iludido pelo acaso em um jogo que nunca pode vencer.

Estilo, atmosfera e a beleza do desespero

Berger filma com o rigor que já se tornou sua marca registrada. A fotografia de James Friend é deslumbrante, banhada em tons dourados e verdes enevoados que refletem tanto o glamour quanto a podridão do mundo dos jogos. A câmera captura Macau como uma cidade viva, pulsante e perigosa — uma espécie de paraíso artificial onde o vício e a solidão se confundem.

A trilha sonora discreta e o design de som sofisticado criam uma sensação constante de tensão silenciosa. É como se cada ficha jogada fosse também um batimento do coração de Doyle, prestes a parar. O resultado é um filme que mergulha o espectador em um transe visual e emocional.

Colin Farrell em uma de suas melhores atuações

Após o sucesso em Os Banshees de Inisherin, Colin Farrell volta a provar sua versatilidade com uma performance intensa e contida. Seu Doyle é um homem dividido entre o orgulho e o desespero, incapaz de se perdoar, mas também de desistir. Há um vazio nos olhos do personagem que traduz perfeitamente a ruína moral e psicológica do vício.

Tilda Swinton aparece como Rebecca, uma mulher misteriosa que surge na vida de Doyle como um eco de sua própria culpa. Sua presença magnética adiciona uma camada quase sobrenatural à narrativa, funcionando como uma consciência externa — ou talvez como um presságio inevitável.

Um drama existencial disfarçado de thriller

O roteiro de Rowan Joffe evita os clichês de filmes sobre apostas. Em vez de focar nas vitórias e derrotas financeiras, ele mergulha nas emoções e no vazio existencial do protagonista. O ritmo é deliberadamente lento, e alguns diálogos filosóficos podem soar excessivos, mas essa cadência é parte da proposta: o jogo aqui não é apenas no cassino, é na alma.

O desfecho é poético e amargo, sugerindo que talvez não exista redenção total — apenas momentos de lucidez entre a queda e o esquecimento.

Veredito

Balada de Um Jogador é um filme sofisticado, atmosférico e emocionalmente devastador. Edward Berger entrega uma obra que equilibra estilo e substância, conduzida por uma das melhores atuações recentes de Colin Farrell.

Visualmente deslumbrante e existencial em essência, o longa é uma meditação sobre sorte, culpa e destino — e sobre como, às vezes, o maior risco não está nas cartas, mas dentro de nós mesmos.

Balada de Um Jogador está disponível na Netflix.

Nota: ★★★★☆ (4 de 5 estrelas)