
No mundo dos famosos, onde holofotes e privilégios parecem criar um escudo impenetrável, uma verdade cruel emerge: ninguém está imune aos ataques cibernéticos. Recentemente, a onda de golpes que atingiu celebridades como Sasha Meneghel, João Figueiredo e os astros da TV e do cinema, Juliana Paes (“Dona Flor e Seus Dois Maridos”, “Just Short of Perfect”, “Bed & Breakfast” e “Casa da Mãe Joana”) e Murilo Rosa (“Olga”, “A Comédia Divina” e “Valente”), escancarou que até mesmo de que até as estrelas precisam de proteção digital.
Mas por que, mesmo sendo mais inacessíveis que o cidadão comum, celebridades se tornaram alvos fáceis? E o que podemos aprender com esses casos para proteger nossa própria vida digital?
Para responder a essas perguntas, o UOL conversou com Alexandre Calgaro, especialista em cibersegurança e nome de referência no Brasil na proteção de infraestruturas críticas e dados sensíveis.
Com décadas de experiência em grandes corporações e na implantação de projetos de impacto nacional, como a Energia Sustentável do Brasil, onde implementou sistemas que salvaguardam ativos vitais para mais de 1,2 milhão de consumidores, Calgaro revela os métodos sorrateiros usados pelos criminosos e, mais importante: ensina como se prevenir de ataques e construir uma verdadeira “fortaleza digital”.

O Elo Mais Fraco: A Falha Humana e a Engenharia Social
Em 2023, observamos um aumento de 70% nos ataques de phishing direcionados, onde os criminosos personalizam as mensagens com informações específicas da vítima, coletadas de redes sociais e outras fontes públicas. Esta técnica tem se mostrado particularmente eficaz contra figuras públicas, cujas vidas são amplamente documentadas online
Calgaro, com a autoridade de quem combate aqueles que andam às sombras na internet, explica que os golpes contra famosos raramente envolvem invasões complexas. A arma preferida dos hackers é a engenharia social, que explora a vulnerabilidade humana e a desatenção.
“Celebridades, assim como todos nós, recebem centenas de e-mails e mensagens diariamente. No meio desse turbilhão digital, um e-mail de phishing bem elaborado, imitando uma comunicação legítima, pode fisgar até a vítima mais precavida”, alerta.
A desatualização de sistemas e a falta de verificação da autenticidade das comunicações digitais são, segundo o especialista, brechas perigosas que os criminosos exploram com maestria. “Mesmo quem se considera protegido pode cair em golpes devastadores se negligenciar esses cuidados básicos”.
Famosos na Mira: Uma Exposição Amplificada
A fama, que supostamente funcionaria como um escudo, acaba se tornando um holofote para os cibercriminosos. A vida pública das celebridades, com seus dados e informações financeiras muitas vezes expostos, facilita a ação dos golpistas.
Sasha Meneghel caiu em um golpe de investimento que explorava plataformas digitais falsas, mas com aparência de segurança e credibilidade. A promessa de lucros fáceis e a engenharia social foram cruciais para o sucesso do ataque.
João Figueiredo foi induzido por e-mails e anúncios falsificados, sendo levado a realizar transações fraudulentas, expondo a fragilidade das comunicações digitais.
Juliana Paes teve dados e credenciais comprometidos por meio de mensagens e e-mails cuidadosamente elaborados para parecerem legítimos, revelando a sofisticação das técnicas de engenharia social.
Murilo Rosa foi vítima de um esquema que explorou falhas em sistemas de segurança digital de plataformas de investimento, tendo suas informações pessoais e financeiras roubadas, culminando em prejuízos e quebra de confiança.
Ataques cibernéticos contra personalidades públicas podem ter gerado prejuízos estimados em milhões de reais, apenas no último ano. O caso de Sasha Meneghel, por exemplo, resultou em uma perda de aproximadamente R$ 1,2 milhão, demonstrando a magnitude dos golpes digitais na atualidade.

De Famosos a Anônimos: A Vulnerabilidade é a Mesma
Calgaro faz um alerta importante: a vulnerabilidade digital não escolhe classe social ou nível de fama. “Estimativas indicam que o Brasil registra cerca de 1 milhão de incidentes de cibersegurança por ano. Todos somos alvos potenciais. A diferença está em quem se protege e quem se descuida”, adverte.
Para Alexandre Calgaro, a lição é clara: investir em cibersegurança não é luxo, é necessidade. E a proteção, segundo ele, começa com medidas simples, mas cruciais:
- Verificação da Autenticidade: “Desconfie sempre. Verifique a fonte de qualquer mensagem ou link, mesmo que pareça vir de um contato conhecido. Em caso de dúvida, confirme por outros canais”, aconselha Calgaro.
- Atualização Constante: “Mantenha softwares, aplicativos e dispositivos sempre atualizados. As atualizações corrigem vulnerabilidades e fecham brechas que os criminosos exploram”, enfatiza.
- Autenticação Multifator (MFA): “Ative a autenticação em duas etapas em todas as contas importantes. Mesmo que sua senha seja comprometida, o MFA dificulta drasticamente o acesso indevido”, explica o especialista.
- Capacitação e Conscientização: “Invista em conhecimento sobre segurança digital. Quanto mais você e sua equipe souberem sobre os riscos e as técnicas dos golpistas, mais fácil será identificar e evitar as armadilhas”, ressalta Calgaro.
Além da prevenção, Calgaro enfatiza a importância de um plano de resposta a incidentes. “Se você for vítima de um ataque, o tempo de reação é crucial. Isole os dispositivos comprometidos, altere imediatamente suas senhas em dispositivos seguros, notifique instituições financeiras e autoridades, e considere o auxílio de especialistas em recuperação de dados e forense digital“, orienta o especialista.