No Festival de Cannes 2024, o júri surpreendeu ao conferir a Palme d’Or ao longa “Anora”, do diretor norte-americano Sean Baker, mesmo diante de expectativas elevadas e de uma disputa acirrada. Sob a liderança de Greta Gerwig, o filme – que narra a trajetória de uma prostituta apaixonada por um jovem milionário, cujo sonho de estabilidade é abruptamente frustrado pela intervenção de uma família conservadora – foi eleito como o principal destaque da edição, embora tenha dividido opiniões entre críticos e espectadores.
A aclamação de “Anora” com a Palme d’Or, prêmio máximo do Festival, despertou controvérsia por desafiar as expectativas tradicionais de um festival que, historicamente, consagra obras ousadas e inovadoras. Embora o filme apresente uma estética refinada e uma narrativa intimista, muitos críticos argumentaram que a vitória refletiu mais um gosto pessoal do júri, do que um reconhecimento de uma proposta verdadeiramente revolucionária.
Apesar de todo o burburinho entre a crítica especializada, a premiação de “Anora” foi interpretada como um aceno à sensibilidade estética do grupo, em detrimento de obras concorrentes, como “The Seed of the Sacred Fig”, que apresentaram uma ousadia política e narrativa notável. Assim, enquanto para alguns a consagração de Sean Baker simboliza um merecido reconhecimento técnico e artístico, para outros ela permanece como um “equívoco” do júri, que, ao privilegiar um filme de superfície elegante teria, segundo as especulações de alguns, deixado escapar o potencial transformador que sempre se espera de uma obra vencedora em Cannes.
Contudo, a maioria dos críticos e jornalistas (incluso este que vos fala, que esteve na première do filme em Cannes), vê a escolha de “Anora” para a Palme d’Or como uma decisão corajosa e plenamente justificada, pois o filme se destaca pela maneira única com que combina sensibilidade estética e uma narrativa carregada de profundidade emocional. Sean Baker cria, com sutileza, uma obra que vai além do convencional, abordando temas como o amor, a ambição e as restrições sociais de forma inovadora e impactante.
Deste modo, ao optar por “Anora”, o júri reconheceu não apenas a excelência técnica e a originalidade do projeto, mas também a capacidade do longa de provocar uma reflexão crítica sobre as dinâmicas de poder e os desafios das convenções sociais, o que parece coerente com a história de Cannes em valorizar o cinema que, mesmo dentro de narrativas aparentemente simples, se mostra ousado, arriscado e capaz de desafiar os padrões estabelecidos, elevando o debate cultural a um novo patamar.
Essa decisão, embora polêmica, ficará marcada como um dos momentos mais debatidos e emblemáticos de Cannes 2024. Confira abaixo os vencedores da edição 2024:
• Palme d’Or: “Anora”, de Sean Baker
• Grand Jury Prize: “All We Imagine as Light”, de Payal Kapadia
• Prêmio do Júri: “Emília Pérez”, de Jacques Audiard
• Melhor Direção: Miguel Gomes, por “Grand Tour”
• Melhor Ator: Jesse Plemons, por “Kinds of Kindness”
• Melhor Atriz (premiação coletiva): Karla Sofía Gascón, Zoe Saldaña, Selena Gomez e Adriana Paz, por “Emília Pérez”
• Melhor Roteiro: Coralie Fargeat, por “The Substance”
• Prêmio Especial: Mohammad Rasoulof, por “The Seed of the Sacred Fig”