Chocante

A chocante história real por trás de O Naufrágio do Heweliusz, da Netflix

A minissérie polonesa revisita o maior desastre marítimo na história da Polônia

O Naufrágio do Heweliusz
O Naufrágio do Heweliusz

A Netflix volta seu olhar para uma das maiores tragédias marítimas da Europa com O Naufrágio do Heweliusz, nova minissérie dirigida por Jan Holoubek. A produção reconta o acidente do ferry MS Jan Heweliusz, que afundou em 1993 no Mar Báltico, tirando a vida de 56 pessoas e deixando apenas nove sobreviventes.

Com um tom de drama histórico e de investigação, a série reconstrói a sequência de falhas que levaram ao naufrágio e revela o impacto emocional e político que o episódio teve na sociedade polonesa.

Escrita por Kasper Bajon, a trama foi criada a partir de fatos reais, depoimentos e documentos judiciais, garantindo um retrato fiel de um caso que até hoje levanta questionamentos sobre responsabilidade e impunidade.

O Naufrágio do Heweliusz

Um desastre anunciado

O MS Jan Heweliusz foi construído em 1977 por uma empresa norueguesa e operado pela Polish Ocean Lines, ligando a cidade de Świnoujście, na Polônia, a Ystad, na Suécia. Desde o início, o navio apresentava sérios problemas estruturais. Seu excesso de peso e uma série de falhas mecânicas renderam a ele o apelido de “caixão flutuante”. Entre 1977 e 1993, o ferry acumulou quase trinta incidentes, incluindo um incêndio em 1986 que danificou permanentemente a embarcação.

As reparações seguintes agravaram a situação. Para estabilizar a estrutura, foram adicionadas toneladas de concreto de forma irregular, o que comprometeu a flutuabilidade do navio. Poucos dias antes do desastre, o portão traseiro foi danificado em uma docagem na Suécia, e mesmo com a recomendação do capitão para suspender as viagens, os proprietários ordenaram um reparo improvisado feito pela própria tripulação. No dia 13 de janeiro de 1993, o Heweliusz zarpou para o que seria sua última travessia.

O Naufrágio do Heweliusz

A tempestade que selou o destino do Heweliusz

A embarcação partiu com 65 pessoas a bordo, incluindo passageiros e tripulantes, além de dezenas de caminhões e vagões carregados. Apesar das condições adversas e ventos de mais de 180 km/h previstos, a rota foi mantida. Às quatro da manhã do dia seguinte, as ondas ultrapassavam seis metros de altura e o capitão Andrzej Ułasiewicz tentou reposicionar o navio contra o vento, sem sucesso.

O Heweliusz começou a inclinar-se mais de 30 graus, tornando impossível o controle da embarcação. Um sinal de SOS foi enviado, mas a violência da tempestade dificultou o lançamento dos botes salva-vidas. Ainda assim, sete botes foram liberados, e parte dos passageiros conseguiu escapar antes de o navio virar completamente às 5h10 da manhã.

O Naufrágio do Heweliusz

Resgate caótico e falhas que custaram vidas

A operação de resgate foi lenta e desorganizada. As fortes rajadas de vento, a temperatura próxima de zero e erros na comunicação entre equipes de diferentes países atrasaram a chegada dos helicópteros. Quando o socorro alemão, dinamarquês e sueco finalmente chegou, os sobreviventes já estavam há mais de uma hora em botes cobertos por gelo.

Os relatos de Jerzy Petruk, um dos nove sobreviventes, revelam o horror do resgate: pessoas que morreram congeladas nas balsas, falhas no içamento de um bote inteiro que acabou virando na água e a exaustão extrema causada pelo frio. O navio afundou por completo às 11h da manhã, levando consigo o capitão e parte da tripulação. Até hoje, o Heweliusz permanece a 27 metros de profundidade no Mar Báltico.

O Naufrágio do Heweliusz

A longa luta por justiça

A tragédia provocou indignação nacional. Uma comissão foi criada pela então primeira-ministra Hanna Suchocka, mas o inquérito foi suspenso meses depois sem conclusões. As investigações iniciais culparam o capitão, uma decisão que revoltou as famílias das vítimas. Em 1996, um novo julgamento confirmou essa versão, apontando erros humanos e falhas no sistema de lastro como causas principais do naufrágio.

Contudo, o caso ganhou novo fôlego em 2000, quando a associação de viúvas e familiares entrou com uma ação na Corte Europeia de Direitos Humanos. Em 2005, o tribunal decidiu a favor das famílias, reconhecendo falhas no processo de investigação e determinando que o governo polonês pagasse indenizações. Anos depois, a legislação marítima do país foi alterada para evitar novos casos de impunidade.

O Naufrágio do Heweliusz já está disponível na Netflix.