
A série Tremembé, recém-lançada no Prime Video, reacendeu o debate sobre os crimes cometidos por Suzane von Richthofen e Elize Matsunaga — duas das figuras mais emblemáticas do sistema carcerário brasileiro. Ambas cumpriram pena na Penitenciária Feminina de Tremembé, interior de São Paulo, e hoje vivem em liberdade, em contextos completamente diferentes, mas igualmente cercadas de vigilância, polêmica e curiosidade pública.
Na produção, personagens inspiradas nas duas mulheres conduzem as tramas que misturam drama psicológico, crítica social e reconstrução de casos reais. Fora da ficção, Suzane e Elize trilham caminhos distintos, tentando equilibrar anonimato, recomeço e a sombra de crimes que jamais saíram da memória do país.

Suzane von Richthofen: nova identidade e maternidade
Condenada a 39 anos e seis meses de prisão pelo assassinato dos pais, Manfred e Marísia von Richthofen, em 2002, Suzane foi uma das detentas mais conhecidas do Brasil. O crime, cometido com a ajuda do namorado, Daniel Cravinhos, e do irmão dele, Cristian, chocou o país e se tornou símbolo de frieza e traição familiar.
Após quase duas décadas atrás das grades, Suzane conquistou a liberdade condicional em 2023. Hoje, vive em uma cidade do interior de São Paulo sob nova identidade — Suzane Louise Magnani Muniz —, em busca de uma vida mais reservada. Em 2024, tornou-se mãe, e passou a se dedicar integralmente à criação do filho e aos estudos.
Durante o tempo em que esteve presa, Suzane participou de atividades religiosas, concluiu o ensino médio e trabalhou na oficina de costura do presídio. Já em liberdade, matriculou-se em um curso de Direito, o que reacendeu o debate sobre reintegração social e as contradições da opinião pública.
Apesar da tentativa de reconstruir a vida, a ex-detenta segue sob olhares atentos e reações controversas. Em algumas cidades onde tentou se estabelecer, moradores expressaram desconforto e até medo diante de sua presença, enquanto outros defendem seu direito ao recomeço após o cumprimento da pena.
Para muitos, Suzane representa o dilema da justiça brasileira: até que ponto uma pessoa condenada pode — e deve — ser perdoada pela sociedade?

Elize Matsunaga: trabalho, solidão e busca por anonimato
A história de Elize Matsunaga também ganhou destaque nacional em 2012, quando veio à tona o assassinato e esquartejamento de seu marido, o empresário Marcos Kitano Matsunaga, herdeiro da marca Yoki. O crime, cometido após uma discussão, revelou uma trama de ciúmes, traição e desespero, que tomou conta da mídia e dividiu a opinião pública.
Condenada em 2016 a 19 anos e 11 meses de prisão, Elize cumpriu parte da pena em Tremembé, onde manteve comportamento exemplar. Em 2022, obteve progressão de regime e, desde então, vive em liberdade condicional.
Diferente de Suzane, Elize optou por manter a discrição total após a soltura. Ela deixou a cidade de Tremembé e passou a morar em local não divulgado. Trabalha em uma empresa de confecção e evita qualquer tipo de exposição. Em raras entrevistas, afirmou que deseja “viver uma vida comum”, longe das câmeras e da curiosidade pública.
Antes disso, Elize chegou a participar do documentário Elize Matsunaga: Era Uma Vez um Crime, da Netflix, no qual concedeu depoimentos diretos sobre sua trajetória, o crime e o julgamento. A produção foi vista como um gesto de catarse — uma forma de retomar o controle de sua própria narrativa.
Hoje, ela vive de maneira simples, mantendo contato com a filha, que está sob tutela de parentes, e tentando reconstruir uma rotina de trabalho e anonimato. Ainda assim, seu nome segue associado a uma das histórias mais perturbadoras do noticiário criminal brasileiro.

Duas histórias, o mesmo destino: a prisão e o julgamento público
Apesar das diferenças — uma matou os pais; a outra, o marido —, Suzane e Elize compartilham destinos semelhantes. Ambas foram transformadas em símbolos do crime feminino no Brasil e sofreram o peso da exposição midiática que as reduziu a caricaturas de vilãs.
As duas histórias também revelam como o sistema prisional feminino brasileiro lida com a culpa, o arrependimento e a possibilidade de reabilitação. Dentro de Tremembé, Suzane e Elize viveram anos lado a lado, participando das mesmas atividades e convivendo com outras mulheres envolvidas em crimes de grande repercussão, como Anna Carolina Jatobá, condenada pela morte da enteada Isabella Nardoni.
A série Tremembé usa essa convivência como pano de fundo para discutir o que há além do crime: a solidão, o estigma e o preço da exposição. Ao humanizar essas mulheres — sem eximi-las de responsabilidade —, a produção levanta uma reflexão importante: quem somos para decidir o que é imperdoável?
Conclusão
Mais de uma década separa os crimes de Suzane von Richthofen e Elize Matsunaga, mas o destino das duas permanece entrelaçado. Ambas buscam um recomeço, mas carregam marcas que dificilmente desaparecerão.
Na vida real, como em Tremembé, não há vilãs nem heroínas absolutas — apenas mulheres tentando lidar com as consequências irreversíveis de suas escolhas. A série transforma essas histórias em espelho da sociedade, mostrando que, no fim, as maiores prisões são invisíveis e estão dentro de cada um de nós.
Os cinco episódios de Tremembé estão disponíveis no Prime Video.

