Inspirado no best-seller de Ruth Ware, A Mulher na Cabine 10, novo filme de suspense da Netflix, tenta recriar o charme dos thrillers psicológicos ambientados em espaços de luxo e confinamento. Dirigido por James Watkins (A Mulher de Preto), o filme aposta na atmosfera de mistério, em visuais deslumbrantes e na presença magnética de Keira Knightley como protagonista. Porém, apesar da elegância visual e de um bom ponto de partida, a narrativa se perde em convenções do gênero e em reviravoltas previsíveis.
Um mistério em alto-mar
Na trama, Lo Blacklock (Keira Knightley) é uma jornalista de viagens em crise, tanto pessoal quanto profissional, que embarca em um cruzeiro de luxo para cobrir a viagem inaugural do navio Aurora Borealis. O que começa como uma experiência glamorosa se transforma em pesadelo quando Lo acredita ter testemunhado um assassinato na cabine ao lado — a misteriosa “cabine 10”.
Ao tentar denunciar o crime, ela descobre que ninguém acredita em sua versão: todos os passageiros parecem estar no navio, e não há registro de qualquer hóspede naquela cabine. O isolamento no mar e os jogos de manipulação psicológica fazem com que Lo passe a duvidar da própria sanidade, enquanto tenta desvendar o que realmente aconteceu.
Keira Knightley sustenta o filme
Knightley é o coração da produção. Sua performance como Lo é intensa, frágil e, ao mesmo tempo, obstinada. A atriz transmite de forma convincente a ansiedade e a paranoia de uma mulher cercada por pessoas que a tratam como instável. Mesmo quando o roteiro se mostra inconsistente, ela consegue manter o espectador envolvido.
Ao lado dela, o elenco coadjuvante — que inclui Sam Claflin, Rebecca Hall e Jack Lowden — cumpre bem o papel de criar uma rede de suspeitos e aliados ambíguos, embora poucos tenham espaço suficiente para se desenvolver.
Luxo e claustrofobia
Um dos grandes acertos de A Mulher na Cabine 10 está em sua ambientação. O iate Aurora Borealis é um espetáculo à parte: corredores impecáveis, salões banhados por luz dourada e cabines que escondem segredos. A direção de arte e a fotografia criam um contraste marcante entre o brilho do luxo e a sensação de aprisionamento que domina Lo à medida que o mistério se aprofunda.
O diretor James Watkins demonstra habilidade em construir tensão através da estética — a câmera em movimento constante, o som abafado dos corredores e o mar sempre presente ao fundo ampliam o clima de inquietação.
Onde o roteiro escorrega
Apesar da atmosfera envolvente, o filme começa a se perder a partir do segundo ato. O roteiro, adaptado por Sarah Phelps, segue a cartilha dos thrillers de confinamento, mas sem a mesma sutileza de obras como Garota Exemplar ou O Homem Invisível.
As reviravoltas — que deveriam ser chocantes — acabam previsíveis, e a explicação final, embora coerente, carece de impacto. A tentativa de explorar a fragilidade mental da protagonista também se repete de maneira exaustiva, o que dilui o suspense em longas sequências de dúvida e histeria.
Além disso, A Mulher na Cabine 10 insiste em fazer Lo questionar a própria percepção, um recurso narrativo que, usado em excesso, acaba cansando o público.
Técnica impecável, emoção nem tanto
Do ponto de vista técnico, A Mulher na Cabine 10 é irretocável: fotografia elegante, som bem construído e trilha sonora discreta, mas eficiente. No entanto, falta alma à produção. O que poderia ser um estudo psicológico sobre paranoia e isolamento se torna um thriller genérico, dependente de fórmulas e com pouca originalidade.
Ainda assim, o ritmo é ágil, e o filme entrega boas doses de tensão, especialmente nos primeiros 40 minutos. Para quem busca um suspense visualmente sofisticado e de fácil consumo, é uma opção eficiente — embora longe de memorável.
Veredito
A Mulher na Cabine 10 é um suspense bonito, mas previsível. Keira Knightley carrega o filme com elegância e intensidade, mas o roteiro não a acompanha na mesma altura. O resultado é um thriller competente, com atmosfera de luxo e solidão, que entretém enquanto dura, mas desaparece da memória logo após os créditos finais.
Nota: 3 de 5 estrelas