James Gunn encerrou a segunda temporada de Pacificador apostando em emoção e continuidade narrativa, em vez de uma batalha épica ou reviravolta espetacular.
A decisão pode ter surpreendido quem esperava algo mais explosivo, mas entrega um fechamento coerente com o que a série vinha construindo até aqui: um herói em conflito, cercado por aliados improváveis e mergulhado em um universo cada vez mais complexo.
Durante os episódios finais, Christopher Smith (John Cena) enfrenta não só ameaças externas, mas seus próprios traumas e relações mal resolvidas. A temporada avança o enredo sem recorrer ao confronto tradicional, investindo em desenvolvimento de personagem e novos caminhos para o DCU.
O episódio final ainda revela que Rick Flag Sr. (Frank Grillo) tem planos sombrios para uma nova realidade chamada Salvation, apresentando um conceito que resgata ideias da minissérie dos quadrinhos Salvation Run.
Realidade alternativa prepara terreno para Superman
A revelação de que Salvation será usada como prisão para metahumanos serve como ponte direta para o futuro do DCU nos cinemas. Lex Luthor (já estabelecido como figura central no próximo filme do Superman) deixa clara sua aliança com Rick Flag, sugerindo que os eventos de Pacificador podem culminar em Homem do Amanhã, previsto para 2027.
O universo de Salvation é repleto de perigos e reviravoltas, como revelado no rugido que encerra a temporada. Há espaço para a introdução de figuras cósmicas, como Desaad, e até uma possível união entre Lex e Superman para sobreviverem à ameaça maior. A segunda temporada planta as bases para isso, sem pressa, mas com direção clara.
O uso criativo das portas e as Terras bizarras do DCU
Um dos trunfos mais interessantes da temporada está no uso das portas do Quantum Unfolding Chamber (QUC), que funcionam como portais para outras realidades. A série explora essas variantes de maneira inventiva, visitando Terras absurdas que flertam com o nonsense, mas sem quebrar a coesão do universo.
Essa abordagem lembra a lógica do universo Ultimate da Marvel ou do próprio Universo Absolute, da DC, onde versões distorcidas de personagens e eventos ajudam a expandir a mitologia sem atrapalhar o cânone principal.
Essa estrutura multiversal funciona como um efeito dominó bem controlado. Cada mundo visitado acrescenta uma camada de estranheza e complexidade, mas também de propósito, refletindo os conflitos internos de Smith e ampliando o escopo narrativo.
Checkmate e o novo rumo da resistência
A criação da organização Checkmate, liderada por Leota Adebayo (Danielle Brooks), marca um novo capítulo no universo de Gunn. A equipe formada pelos 11th Street Kids, com apoio de personagens como Judomaster, Bordeaux e Fleury, nasce como resposta ao desgaste de ARGUS e à crescente desconfiança na liderança de Rick Flag Sr. A base da organização, financiada com o dinheiro escondido de Vigilante, estabelece o grupo como nova força de resistência dentro do DCU.
Na prática, Checkmate substitui a antiga dinâmica da Força-Tarefa X (Esquadrão Suicida), mas com um código ético distinto. Ao invés de vilões coagidos, temos personagens com autonomia e propósito, capazes de agir como contraponto às decisões autoritárias de figuras como Flag e Waller.
Ganchos emocionais e novos começos
No centro de tudo está a relação entre Chris e Emilia Harcourt (Jennifer Holland), que finalmente ganha espaço. A série constrói o vínculo entre os dois com calma, mostrando que o afeto entre eles está mais ligado à confiança e ao acolhimento do que à tensão romântica convencional. O beijo no barco, seguido pela reconciliação no mesmo local, encerra um ciclo iniciado na primeira temporada.
A série também surpreende ao abandonar o clichê do confronto final. Em vez de lutas ou grandes sacrifícios, o desfecho gira em torno de uma conversa emocional, onde os 11th Street Kids convencem Chris de que ele é amado. Essa virada confirma que Pacificador não quer apenas entreter com ação, mas desenvolver um herói complexo, falho e profundamente humano.
Um saldo positivo e mais promissor que nunca
Ao fim da temporada, Pacificador entrega não só uma boa história de amadurecimento, mas um terreno fértil para a próxima fase do DCU. James Gunn, que também escreve e produz a série, demonstra domínio sobre o equilíbrio entre o emocional e o absurdo, entre o íntimo e o épico. John Cena segue carismático no papel principal, sustentando tanto os momentos de humor quanto os mais vulneráveis com segurança.
Com referências aos quadrinhos, reinterpretações criativas e novos ganchos que apontam diretamente para Superman: Homem do Amanhã, a série reafirma seu papel dentro da estratégia maior do estúdio. E, mais importante, mostra que é possível fazer uma adaptação de heróis que respeita a inteligência do público sem abrir mão da diversão.
Pacificador está disponível na HBO Max.