Surpreendente

Crítica: Pacificador encerra 2ª temporada com saldo positivo e fortalece visão de James Gunn no DCU

2ª temporada reforça a identidade da série e a liderança criativa de Gunn

Pacificador
Pacificador

A segunda temporada de Pacificador (infelizmente) chegou ao fim. Após oito episódios com saldo positivo, James Gunn mostrou o porquê é o cara dos heróis. Mesmo com o humor escrachado e a violência exagerada ainda presentes, os novos episódios dão mais espaço para o desenvolvimento emocional dos personagens, especialmente do Chris, e ainda que o grande foco seja a sua trajetória de redenção, o caminho até ela se mostra mais denso, mais ousado e, de certo modo, mais político.

A ponte entre o DCEU e o DCU

É fato que, quando James Gunn assumiu a DC, muitos duvidaram dele, mas Pacificador coloca fim em qualquer discussão. O diretor conseguiu dar sentido tanto ao universo compartilhado quanto ao multiverso de uma forma que é invejável – e surpreendente.

Mesmo que apareçam elementos de outras produções, a série não necessita de que o espectador tenha conhecimento prévio para compreender a narrativa. O universo compartilhado existe, mas ele ainda não é limitante.

Além disso, sendo a única ponte entre o antigo DCEU e o novo DCU, a série tinha a missão de realizar uma transição que fizesse sentido. A temporada começa com um retcon brilhante, mas não para por aí.

Ao longo dos episódios, elementos de Superman e Comando das Criaturas são introduzidos de forma natural, e o mais importante: sem precisar de conhecimento prévio. Já no meio da temporada, você mal lembra do finado universo anterior.

A coragem de James Gunn

Para além da transição bem-sucedida, James Gunn usou e abusou de uma coragem necessária para fazer uma produção de impacto. Em Superman, ele já havia criticado a política externa dos EUA e os conflitos armados. Agora, em Pacificador, ele volta a provocar com a escolha de trabalhar uma realidade supremacista, sem que soe como uma simples alfinetada.

O que torna tudo mais eficaz, no entanto, é o fato de fazer isso sem abrir mão da linguagem proposta. No caso de Superman: profundidade e esperança; em Pacificador: humor, exagero e elementos absurdos, cumprindo com a ideia de criar uma franquia coesa, mas com espaço para que cada obra funcione no seu tom.

O formato se inspira na lógica das HQs, onde diferentes linhas editoriais coexistem dentro de uma cronologia maior, ao tempo em que mantém um identidade própria. Não é por acaso que hoje Gunn é considerado o nome mais notável entre os diretores de heróis em atividade.

Além disso, Pacificador não se detém nesse universo por muito tempo. A dimensão nazista é central apenas em dois episódios, o suficiente para passar a mensagem e gerar as rupturas necessárias para impulsionar a história de Chris, sem que roube o protagonismo. O foco continua sendo ele, seu passado, suas escolhas e sua tentativa de encontrar um lugar no mundo. 

Realidades alternativas

Esse uso das realidades paralelas é outro ponto forte. Gunn não as transforma em um carnaval de possibilidades desconexas – pelo menos até o último episódio. A lógica é a que faz mais sentido: uma única mudança significativa (como os nazistas vencendo a Segunda Guerra) desencadeia uma sequência de transformações que impactam toda a estrutura social e política daquele universo. 

Essa construção sutil também abre espaço para que o absurdo seja introduzido com naturalidade. Ao final da temporada, com a missão de explorar novas portas dimensionais, o time encara possibilidades bizarras, que podem desencadear tramas próximas ao Universo Absolute. 

Chris é o coração da temporada

Por mais que os portais e as realidades paralelas ofereçam possibilidades interessantes, tudo gira em torno de Chris: seu isolamento, suas escolhas, o esforço para deixar de ser um instrumento de violência e até seu grupo de amigos. Ele é o centro, e o coração da série.

John Cena surpreende com a entrega emocional, e isso rende frutos ao longo da temporada, que se torna muito mais profunda do que suas aparições anteriores. O episódio 7 tem uma das cenas mais pesadas da série, e o episódio 8 contrapõe isso com uma cena surpreendentemente emotiva. De forma brilhante, Pacificador equilibra a emoção, densidade e humor. 

O elenco também ajuda e é grande parte do sucesso desse roteiro. Danielle Brooks (Adebayo) e Freddie Stroma (Vigilante) são carismáticos ao ponto de qualquer cena entre eles ser um presente. Mesmo que toda a temporada e as relações girem em torno do desenvolvimento de Chris, eles não sobram na trama — e o mesmo vale para Jennifer Holland, que entrega momentos mais sutis e sólidos como Harcourt.

Os pontos fracos ficam por conta de Rick Flag (Frank Grillo), que passa boa parte dos episódios de um lado para o outro, sempre em busca de ajuda e perdendo o controle da situação, destoando do personagem forte que vimos em Comando das Criaturas, e de Eagly, que reteve a atenção por metade da temporada, mas foi completamente esquecido nos últimos episódios.

O final perfeito para abrir novas possibilidades

A temporada se encerra sem deixar pontas soltas, mas com um cliffhanger necessário para a continuação. O final resolve todos os arcos iniciados nos primeiros episódios, mas já estabelece um novo problema central que deve guiar a próxima temporada. Com Chris banido para testar uma realidade desconhecida (e potencialmente hostil), a série reposiciona as peças e define os times para a próxima fase. 

No fim das contas, a segunda temporada de Pacificador se estabelece como uma das mais interessantes do universo dos heróis e coloca James Gunn em um patamar difícil de bater, enfim consolidado no comando do DCU.

Pacificador está disponivel na HBO Max.