Inevitável

Alien: Earth pode ter quebrado a continuidade da franquia - mas isso importa?

Série levanta dúvidas sobre a linha do tempo de Alien.

Alien: Earth pode ter quebrado a continuidade da franquia - mas isso importa?

Manter a continuidade de uma franquia de ficção científica é um desafio que cresce com o tempo. O problema já atingiu sagas como Star Wars e Star Trek, e agora parece ter chegado a Alien. O que começou em 1979 como um terror espacial simples se tornou um universo cheio de ramificações, com filmes, quadrinhos, jogos e, mais recentemente, uma série de TV.

Alien: Earth, lançada pelo FX e disponibilizada no Disney+, amplia esse escopo, trazendo novos detalhes sobre corporações, criaturas e a própria cronologia. Só que ao expandir tanto, a série inevitavelmente esbarra em contradições com o que já foi estabelecido, e parte disso parece ter sido uma escolha consciente de Noah Hawley, criador da produção.

A questão da linha do tempo

A série se passa em 2120, apenas dois anos antes dos eventos de Alien, de 1979. Porém, no episódio 3, descobrimos que a nave Maginot estava em uma missão de 65 anos, o que significaria que partiu da Terra em 2057.

O problema é que em Prometheus, ambientado em 2089, a Weyland Corp ainda existia sozinha, antes da fusão com a Yutani. Se a Maginot já operava sob Weyland-Yutani em 2057, a cronologia entra em conflito.

Há também o detalhe estético: a nave em Alien: Earth é praticamente idêntica à Nostromo, lançada mais de seis décadas depois. Embora a escolha dialogue com a nostalgia visual, levanta questionamentos sobre a coerência tecnológica dentro do universo.

Contradições inevitáveis

A maior inconsistência, contudo, envolve o funcionamento da Weyland-Yutani. Morrow, oficial de segurança da corporação, se comunica com a empresa usando códigos da Yutani já consolidados, e até menciona uma ligação com a família da atual CEO. Isso ignora o fato de que a fusão só deveria ter acontecido décadas após o início da missão.

Esses desencontros não passaram despercebidos, e Hawley já afirmou em entrevistas que preferiu priorizar a narrativa da série em vez de alinhar cada detalhe com todos os filmes anteriores. O showrunner citou explicitamente Prometheus como um dos títulos que não seguiu à risca.

O cânone deve ser absoluto?

Mesmo com as falhas, há formas de justificar algumas pontas soltas. É possível, por exemplo, que a missão da Maginot tenha começado sob a Yutani e sido incorporada pela Weyland-Yutani ao longo do percurso. Também pode-se supor que os protocolos de segurança e tecnologias fossem atualizados remotamente durante a viagem.

Ainda assim, as contradições chamam atenção justamente porque Alien: Earth tem como foco as disputas corporativas. Num enredo centrado em burocracia e poder empresarial, ver a cronologia se tornar nebulosa causa estranhamento.

A importância da flexibilidade

Apesar das críticas, vale lembrar que franquias longas sempre enfrentam ajustes e retcons. O próprio Ridley Scott, ao criar Prometheus, alterou ideias já estabelecidas sobre os Xenomorfos. O que importa, no fim, é se a história contada consegue prender o público, mesmo que não siga à risca cada detalhe do passado.

Assim, Alien: Earth talvez esteja apontando para um futuro em que a franquia não dependa mais de uma continuidade rígida, mas sim de narrativas capazes de expandir seu universo sem medo de revisar o que veio antes.

Alien: Earth está disponível no Disney+.