Decepção

Alien: Earth impressiona no visual mas tem trama entediante

Apesar do design caprichado e do elenco promissor, a nova série do universo Alien não consegue sustentar uma narrativa envolvente.

Alien: Earth impressiona no visual mas tem trama entediante

Por décadas, a franquia Alien se destacou justamente por evitar fórmulas prontas. Cada novo título, mesmo com suas falhas, entregava uma abordagem diferente, ora mergulhando no horror espacial, ora flertando com ficção científica filosófica, ação militarizada ou estética gótica.

Mas desde Alien: Romulus, lançado em 2024, algo mudou. O filme até teve bom desempenho nos cinemas, mas trouxe pouca originalidade. Em vez de ampliar o universo, preferiu apenas repetir frases e cenas de clássicos anteriores. Agora, com Alien: Earth, primeira série de TV da franquia, a repetição se intensifica e o cansaço também.

O visual chama atenção, mas a história não acompanha

Criada por Noah Hawley, Alien: Earth se passa dois anos antes do primeiro filme e aposta em uma estética visual impactante. A ambientação é ambiciosa, os cenários são detalhados e a direção de arte esbanja orçamento. O problema é que todo esse cuidado com a aparência não se reflete no roteiro.

A premissa até carrega potencial: em um futuro onde governos deram lugar a megacorporações, uma nave da Weyland-Yutani retorna à Terra com diversas espécies alienígenas a bordo. O problema começa com a queda da nave, que atrai a atenção da Prodigy Corporation, liderada pelo jovem CEO Boy Kavalier.

É a partir desse ponto que o roteiro se complica. A Prodigy desenvolveu um projeto de transferência de consciência humana para corpos robóticos. O grupo de teste são crianças doentes que agora habitam corpos adultos. Essa decisão gera um desconforto narrativo, pois os atores precisam agir como crianças presas em corpos maiores, algo que se torna rapidamente irritante e repetitivo.

Um elenco talentoso desperdiçado

No meio da bagunça, até há tentativas de equilíbrio. Timothy Olyphant vive Kirsh, um sintético que observa silenciosamente os desdobramentos, mas que pouco interfere de fato na ação. Sua presença constante por trás de monitores promete uma revelação futura, mas até o sexto episódio, pouco se concretiza.

O destaque vai para Morrow, personagem de Babou Ceesay. Um ciborgue moralmente ambíguo, ele se apresenta como o único realmente cativante na trama, disposto a tomar decisões brutais em nome da preservação alienígena. Seu carisma e intensidade contrastam com o restante do elenco, tornando evidente o desequilíbrio entre os personagens.

Mesmo as criaturas novas introduzidas na série, pensadas para expandir o bestiário da franquia, não conseguem competir com o impacto visual e simbólico dos Xenomorfos. Ainda que sejam grotescas e bem produzidas, elas carecem da aura ameaçadora que tornou o monstro original tão marcante.

Falta originalidade e sobra referência

Se o objetivo era homenagear o clássico de 1979, Alien: Earth exagera na dose. Desde os figurinos com cortes de cabelo retrô até a recriação quase literal da cena de abertura do primeiro filme, a série parece obcecada em emular o passado sem entender o que o tornava poderoso.

Há ecos de todos os filmes anteriores, mas sem contexto ou propósito narrativo. Referências soltas surgem como lembretes gratuitos de que aquilo é um produto do universo Alien, mas não ajudam a desenvolver a trama ou os personagens. Em vez de nostalgia, o que se instala é a sensação de déjà vu.

Os próprios Xenomorfos são inseridos apenas para manter a marca registrada, mas sem desempenhar um papel real na condução da história. A ausência deles em boa parte dos episódios acaba deixando a sensação de que o título da série é enganoso.

A narrativa arrasta e o ritmo desmotiva

Ainda sim, o maior problema de Alien: Earth não é a trama exagerada, nem os personagens. É a monotonia. A série sofre com ritmo irregular e uma edição que mais atrapalha do que ajuda. Momentos que deveriam ser tensos são diluídos por cortes desconexos, e os diálogos raramente avançam a história de maneira significativa.

Mesmo considerando que se trata de uma série semanal, o que permitiria um desenvolvimento mais gradual, a falta de energia e de motivação na condução do enredo compromete a experiência. Diferente de produções anteriores da franquia, aqui o tédio é constante. Não há tensão suficiente, nem envolvimento emocional com os personagens.

A sensação é de desperdício. O universo criado, repleto de possibilidades, é reduzido a uma colagem de ideias antigas e decisões criativas questionáveis. Mesmo com todo o investimento visual, Alien: Earth parece não saber exatamente o que quer ser.

Alien: Earth estreia 12 de agosto no Disney+.