Antes mesmo de sabermos o nome de Gi-hun, já tínhamos as pistas do que viria a ser seu destino. A imagem de um homem perdido entre dívidas e apostas marcou o início da jornada de um personagem que, ao longo de três temporadas, passou por grandes mudanças. Agora, com o encerramento da série, fica claro que os sinais sempre estiveram ali, desde o episódio piloto.
Round 6 se encerra com o sacrifício de seu protagonista e entrega uma conclusão que reverbera em tudo que foi construído desde 2021. A escolha de Gi-hun no episódio final, ao abrir mão da própria vida para salvar a filha de Jun-hee, é a manifestação mais crua e simbólica de seus princípios – os mesmos que vinham sendo desenhados desde a primeira vez que o vimos apostar em cavalos.
A metáfora dos cavalos sempre esteve presente
Logo no primeiro episódio, Gi-hun é retratado apostando em corridas de cavalo, na esperança de conseguir dinheiro para levar a filha ao parque. O gesto, por mais banal que pareça, carrega um simbolismo que só se revela por completo na temporada final.
Ao longo da série, a imagem dos cavalos volta com força, principalmente quando os jogadores se tornam “peões” em um jogo arquitetado por bilionários entediados, uma dinâmica onde vidas humanas são tratadas com o mesmo desprezo reservado aos animais nas corridas.
Esse paralelo ganha peso nos episódios finais. Ao se posicionar contra os VIPs e suas apostas perversas, Gi-hun reforça a metáfora estabelecida desde o começo: “nós não somos cavalos”.
Essa frase, dita pouco antes de sua morte, conecta início e fim de sua trajetória, selando sua posição como o personagem que mais resistiu à desumanização proposta pelo sistema do jogo.
A fé inabalável de Gi-hun na humanidade
Mesmo após ser traído, manipulado e forçado a assistir à morte de dezenas de pessoas, Gi-hun manteve algo raro em Round 6: a crença de que o ser humano ainda é capaz de compaixão.
Esse tema é explorado com profundidade durante o diálogo com Il-nam, criador dos jogos, em que ambos apostam se alguém ajudaria um morador de rua em plena noite fria. Gi-hun vence essa aposta, e carrega essa esperança até o último episódio.
A terceira temporada reforça essa visão. Mesmo diante da morte iminente, jogadores como Hyun-ju e Geum-ja arriscaram suas vidas por outras pessoas. O próprio Gi-hun seguiu esse caminho ao proteger Jun-hee e o bebê, mesmo sabendo que isso custaria sua vida.
Na cena final, Gi-hun se prepara para a morte. Em sua última fala, ele diz: “nós não somos cavalos, nós somos humanos. Humanos são…”, e não completa a frase.
A decisão de deixá-la em aberto não foi aleatória. Segundo o criador da série, Hwang Dong-hyuk, a escolha reflete a complexidade da natureza humana, impossível de resumir em palavras simples ou definitivas.
Esse encerramento, combinado ao gesto extremo de Gi-hun, serve como resposta simbólica a tudo que a série construiu. Ele não precisou explicar com palavras o que significa ser humano. Seus atos falaram por si.