O herói que sempre representou a luta diária do “homem comum” está perdendo seu próprio valor, não para os vilões, mas nas mãos da própria Marvel. O que era para ser uma nova fase promissora nas HQs do Homem-Aranha está, na verdade, afundando Peter Parker em um mar de decisões editoriais que contradizem tudo o que ele construiu nas últimas décadas.
A nova fase de The Amazing Spider-Man, escrita por Joe Kelly, traz um Peter quebrado em todas as frentes. Mas o problema não é o drama, que sempre fez parte do Aranha. O problema é o ciclo tóxico que a Marvel insiste em repetir, fazendo Peter Parker falhar sem chance de reconstrução, como se fosse mais interessante manter o herói em ruínas do que vê-lo evoluir.
Peter Parker virou um fracasso público, e a Marvel insiste em repetir a fórmula
Quem leu as fases clássicas de Stan Lee e Steve Ditko sabe que o Peter sempre enfrentou dificuldades. Mas o que se vê hoje é diferente. Em vez de mostrar resiliência e crescimento, ele é apresentado como um adulto incapaz de manter um emprego, terminar um relacionamento ou sequer defender o próprio nome. A destruição da Parker Industries é só um símbolo dessa fase desastrosa.
Criada originalmente por Otto Octavius durante a fase do Superior Spider-Man, a empresa foi um marco de reinvenção para o personagem. Quando Peter recuperou seu corpo, tentou manter o legado… mas foi forçado a destruir tudo, numa tentativa de impedir que Doc Ock usasse a tecnologia para fins nefastos. Resultado: um diploma revogado, uma empresa em ruínas, e uma reputação civil manchada, e sem direito a defesa.
A vida amorosa de Peter virou mais um campo de batalha
Com Shay Marken, a Marvel tentou introduzir uma nova parceira para Peter. Inicialmente, parecia uma relação diferente: ele escolheu o amor em vez do uniforme, algo que nunca conseguiu com Mary Jane, Felicia Hardy ou Gwen Stacy. Mas, novamente, o roteiro o arrasta para baixo. A culpa, a depressão e o envolvimento mal resolvido com a Gata Negra tornam Peter cada vez mais tóxico, e Shay o confronta como alguém que precisa de ajuda, não de um romance.
Shay é uma boa personagem. E o fato de não o considerar mais “exclusivo” mostra que a Marvel tenta fazer algo novo. Mas, ao mesmo tempo, repete um padrão antigo: Homem-Aranha sempre é emocionalmente instável, sempre afasta quem ama e sempre acaba sozinho. Ao invés de evolução, temos reciclagem.
Ainda há salvação? Só se a Marvel parar de sabotar o próprio personagem
A boa notícia, se é que existe uma, é que Homem-Aranha consegue um novo emprego na Rand Enterprises, graças a um amigo do passado. Mas essa “luz no fim do túnel” parece mais uma esmola narrativa do que uma guinada real.
Os leitores que acompanham o Homem-Aranha há décadas querem mais do que isso: querem ver Peter crescer. Não precisa ser um final feliz de filme da Marvel Studios, mas precisa ter propósito.
A Marvel tem a chance de reverter esse ciclo. De trazer de volta o Homem-Aranha que, mesmo com todas as dificuldades, ainda era admirável. Aquele que inspirava jovens nerds, órfãos, solitários, pessoas comuns.
The Amazing Spider-Man #1 já está disponível na Marvel Comics.