The Walking Dead pode até ter terminado, mas deixou uma sombra pairando sobre seu capítulo mais importante: o começo. Tudo o que vivemos com Rick, Daryl, Michonne e tantos outros começou com um único disparo.
Mas até hoje, ninguém explicou direito quem apertou aquele gatilho, nem por quê. E isso não é só uma curiosidade qualquer: é um buraco narrativo que contraria tudo o que a série sempre prezou.
O disparo que iniciou o apocalipse nunca foi explicado
Rick Grimes despertando sozinho em um hospital abandonado é um dos começos mais icônicos das HQs. Mas essa imagem forte esconde uma pergunta jamais respondida: quem, de fato, atirou em Rick?
Nas HQs, esse momento acontece logo na primeira edição: Rick e Shane encontram um fugitivo armado, chamado Reggie, que acaba acertando Rick no peito durante um confronto. Reggie nunca teve desenvolvimento.
Foi apenas chamado de criminoso em fuga, mas demonstrou uma habilidade surpreendente com armas, desarmando Shane com precisão e ferindo Rick de forma certeira. Esse evento, embora breve, muda tudo. E, estranhamente, nunca ganhou espaço na trama para ser aprofundado.
Reggie é uma anomalia em um universo onde todos têm história
The Walking Dead sempre se destacou por dar profundidade até para os personagens mais secundários. Se você acompanha a franquia, sabe que até nomes como Tyreese, Abraham e até o irmão de Rick, Jeffrey Grimes, receberam algum tipo de desenvolvimento. Mas Reggie? Reggie, o homem que deu início a tudo, continua um completo mistério.
Como ele escapou da prisão? Por que estava naquela cidade? Como ele terminou como zumbi em Atlanta, longe do local do tiroteio? São perguntas simples, mas que nunca tiveram resposta, e isso contrasta fortemente com o padrão que The Walking Dead sempre seguiu.
Negan, por exemplo, não apenas ganhou um arco de redenção, mas teve sua origem contada com riqueza de detalhes. Desde seu emprego antes do apocalipse até o nascimento simbólico de sua persona violenta, tudo foi explicado.
O sumiço de Reggie é um erro que nunca foi corrigido
O mais estranho é que Shane chega a dizer que Reggie não era um local. Isso torna tudo ainda mais confuso: o que ele fazia ali? Como chegou até aquela área? E como conseguiu fugir da cena após o tiroteio, sendo depois encontrado zumbificado em Atlanta? Há uma sequência lógica quebrada aí, e quem é fã atento percebe.
Kirkman sempre teve o hábito de fechar pontas soltas. O universo de The Walking Dead é construído com personagens cujas decisões moldam o mundo. Ignorar Reggie é como ignorar a faísca que acende o incêndio. Não parece à altura da coerência que a HQ sempre teve.
Ninguém espera uma saga inteira sobre Reggie. Mas uma edição especial, como foi feito com “The Walking Dead: O Negan Chegou! e Outras Histórias”, poderia responder essas questões objetivamente. Mostrar como ele fugiu, como sobreviveu, e como foi parar em Atlanta. Seria o suficiente para dar sentido a algo que sempre esteve ali, em silêncio, incomodando quem acompanha a obra desde o início.
Se a série quiser encerrar sua história com justiça, precisa voltar a esse ponto
Mesmo com o encerramento da série principal e o surgimento de spin-offs como Daryl Dixon e Dead City, há espaço para contar essa história. Nem que seja em um especial nas HQs, ou em uma minissérie animada. A origem do apocalipse é cercada de incertezas, mas a origem da história de Rick tem um rosto: o de Reggie.
E se The Walking Dead quiser honrar sua própria coerência, precisa dar voz a esse personagem. Não por ele, mas pela história que começou com ele. Reggie é a pergunta que ninguém responde, mas que todos merecem ouvir.
The Walking Dead está disponível no Prime Video.