Críticas

Crítica | Independence Day: O Ressurgimento

Há filmes que entram na história não por seu roteiro, por sua direção, ou por todo conjunto da obra, mas sim por seus incríveis avanços técnicos, e esse tipo de longa deve sim ter seu devido reconhecimento. Independence Day foi um desses exemplos.

O longa de 1996 foi inovador no que se diz a respeito de efeitos visuais, principalmente os gerados por meios digitais, vencendo até mesmo o Oscar nessa categoria. O filme que não é tão lembrado por sua narrativa, ou por seus personagens, porém em termos de suas inovações foi um modelo a ser seguido e até hoje muito se deve a Independence Day. Passados 20 anos desse fenômeno, a pergunta a ser feita é o que sobra à Independence Day sem essa característica.

Em 2016, Independence Day: O Ressurgimento só se insere na tendência dos blockbusters atuais, utilizando ao extremo o CGI, depositando sua fé fílmica no recurso computadorizado, concedendo ao filme um visual totalmente digital, mas não inventivo ou único, apenas mais um exemplo dos diversos blockbusters que chegam às telas toda semana. Assim, sem o deslumbramento técnico e visual, resta ao público aguardar um bom roteiro, bons personagens, boa direção e até mesmo boas cenas de ação.

E se Independence Day: O Ressurgimento apostava em seus efeitos e numa possível aproximação afetiva com os personagens já vistos há 20 anos, o longa deixa a desejar. Aliás, esta é uma estratégia recorrente e sintomática da indústria hollywoodiana, apostar em intermináveis revivals, na qual se acredita que a figura de um antigo personagem, ou um easter egg, bastaria para conquistar sua audiência. E esse novo longa acredita plenamente nisso, mesclando personagens antigos com novas figuras conectadas de certo modo àquele marcante quatro de julho. Assim, o antigo presidente americano, Whitmore (Bill Pulman), o cientista David Levinson (Jeff Goldblum) e o Dr Okun (Brent Spiner), junto com os novos rostos, como o corajoso sargento Jake (Liam Hemssworth), a determinada filha de Whitmore, Patricia (Maika Monroe), e o hábil Dylan Hiller (Jessie T. Usher), filho do capitão Steven Hiller (encarnado por Will Smith no primeiro longa) – que serve muito mais como uma aproximação do protagonista do filme de 1996 do que qualquer outra coisa – estão prontos pra uma nova e mais aterrorizante invasão alienígena.

O que acaba prejudicando muito o desenvolvimento narrativo de Independence Day 2 é que o filme tenta conceber a todos esses personagens seus conflitos internos e pessoais, quase não definindo quem é seu protagonista, o que gera uma disputa por quem tem mais importância e tempo de tela. Com essa série de tramas e subtramas, o filme tem dificuldade de se desenvolver de forma clara, sem soar artificial, e algumas questões acabam sendo resolvidas de maneiras fáceis como a rivalidade entre Dylan e Jake. Nessa confusão narrativa, Independence Day: O Ressurgimento adota um tom demagogo, apesar das boas intenções, como se agora o mundo estivesse todo unido após a luta contra um inimigo comum, mas essa unificação pacífica é sempre com a ação hegemônica americana e também revela que a terra levou seu pensamento xenofóbico para o resto do universo não mais para seus conterrâneos.

Dessa forma, a primeira vez que o corpo de astronautas avista uma nave alienígena a ação é atacar, sem estudo da situação, o temor da ameaça externa (figura do estrangeiro) é passível de uma ofensiva. E mesmo com tal ação sendo um equívoco por parte dos terráqueos, isso não gera uma consequência grave para os heróis; o longa mesmo com seu discurso (verbal) de integração, não percebe que a figura do extraterrestre é a mesma do imigrante, o Alien do futuro é o mexicano de agora. Uma figura de fora da nação hegemônica sempre visto como uma ameaça, independente de qualquer coisa.

O mais interessante em Independence Day: O Ressurgimento é sua compreensão quanto a seu caráter ficcional; mesmo que o longa se passe em 2016, a ação se desenrola num mundo que não é o vívido na terra atualmente, assumindo de maneira acertada, que os acontecimentos vistos há vinte anos acarretariam em um presente completamente distinto, que contaria com uma integração entre tecnologia humana e alienígena, que levariam o mundo a grandes avanços, como até algumas bases em satélites naturais ao redor da galáxia.

No entanto, esse mundo alternativo é único ponto inventivo do filme, que se contenta a repetir velhos clichês da ficção científica, adotando um aspecto visual repetido desde a década de 80 com Alien, obra seminal do gênero. Não aprendendo nem com este exemplo que o interesse do espectador no ser do outro mundo é exatamente em sua falta de conhecimento com aquela figura, não ver o monstro em o Oitavo Passageiro é o que o deixa tão ameaçador. Aqui, por outro lado, a figura é mostrada ao exagero, na extrema confiança no recurso digital, o grande Alien torna-se apenas mais um brinquedo gerado por computadores.

É sabido, também, que Roland Emmerich não é um dos grandes nomes do cinema, se aproximando muito mais de Michael Bay do que de qualquer outro, adotando os mesmos recursos do diretor de Transformers para construir sua ação, consistindo basicamente numa câmera frenética, que quase não se compreende o desenrolar cênico. E é engraçado notar como esses diretores subestimam o gênero que realizam, não compreendendo que a ação deve ser entendida pelo público e que acontecimentos caóticos nem sempre necessitam de uma direção esquizofrênica, fato que mais dispersa o espectador do que qualquer outra coisa. O que por um lado é um mau sinal fílmico, mas estratégico para disfarçar seus erros cinematográficos.

Assim, no meio da safra de blockbusters, Independence Day: O Ressurgimento é apenas mais um. Na crença cega que a tecnologia é a principal saída no gênero ação/ficção científica, o filme se perde nos próprios inventos técnicos que ajudou a difundir, os efeitos são o centro do filme, que faz com que essa sequência não tenha nada de diferente e com certeza não entrará na história do cinema por motivo algum.

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