Críticas

Boa Noite, Mamãe | Filme de terror que assusta sem monstros

A presença de crianças é comum em filmes de terror e suspense. O Exorcista (1973), A Profecia (1976) e O Iluminado (1980) são apenas alguns que apostaram nessa combinação e deram certo. Através dos olhos de dois garotos, os criadores, Veronika Franz e Severin Fiala, contam sua história.

Quem traduz o título original, Ich Seh, Ich Seh, para o português pode achar que Boa Noite, Mamãe (Goodnight Mommy, na versão norte-americana) não funciona tão bem quanto Eu Vejo, Eu Vejo, mas acredite: se encaixa. Está ligado à canção em alemão que abre e encerra o filme. Aliás, essa é a única música do longa, que utiliza muito bem o som ambiente ou mesmo o silêncio para instalar o clima de terror psicológico.

Na primeira cena somos agraciados pela direção de fotografia do austríaco Martin Gschlacht, que trabalhou com Veronika no documentário Im Keller. Ele abusa do contraste de luz e sombra, durante a corrida dos gêmeos pela plantação de milho – o que se mantém em toda a obra. A escuridão se torna ainda mais dura e amedrontadora sob a inocência. Mesmo as cenas à luz do sol parecem frias.

Quando retornam para casa, Elias e Lukas Schwarz (que interpretam personagens com seus respectivos nomes) se deparam com a personagem de Susanne Wuest (O Campeão de Hitler, 2010). A mãe acabou de retornar para casa e tem o rosto coberto por faixas após uma cirurgia plástica. Somada ao comportamento recluso – nada de visitas e persianas sempre fechadas –, a aparência começa a despertar a desconfiança dos dois.

Durante uma partida de Na Testa (a brincadeira de adivinhação vista em Bastardos Inglórios), descobrimos um pouco mais sobre a personagem de Susanne. Ela é – ou era – apresentadora de televisão. Nesta primeira interação, é possível perceber que existe algo de errado no núcleo familiar e não demora para que a desconfiança dos garotos se transforme em obsessão por descobrir quem realmente está por baixo das bandagens.

Veronika Franz e Severin Fiala dividem roteiro e direção. Ambos não têm grandes experiências com longa-metragens, carregando no currículo alguns documentários e curtas, mas não desapontam. Conduzem a trama com qualidade, entregando só o necessário e de forma natural. Uma dica: atente-se aos personagens coadjuvantes. Eles aparecem pouco, entregam o suficiente para ajudar a compreender a reviravolta da obra – e até o paradeiro do pai dos garotos.

O destaque da obra é a atuação dos gêmeos Schwarz. No começo, é difícil distinguir os dois (as cores das camisetas ajudam um pouco), porém, conforme evoluem na trama, até mesmo alguns traços físicos mudam, e é preciso ficar atento para perceber como essas alterações estão relacionadas às mudanças de personalidade.
O desfecho pode surpreender quem confia demais no material de divulgação, no trailer e na sinopse.

Esqueça os filmes de possessão demoníaca. O monstro aqui é outro e o tipo de filme, também. Em meio ao tsunami de filmes que apostam em sustos gratuitos, com criaturas saltando na tela, Boa Noite, Mamãe traz a angustia de assistir cenas tão bem construídas e chocantes. Cenas de tortura muito mais convincentes que a extravagância dos últimos capítulos da franquia Jogos Mortais.

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