Críticas

Crítica | O Preço da Fama

Em O Preço da Fama (La Rançon de La Gloire), o diretor Xavier Beauvois transforma um fato real pouco conhecido e documentado, o roubo do caixão de Chaplin, alguns meses após seu falecimento, e transforma em uma cativante história sobre dois amigos que, devido à falta de dinheiro, resolvem “sequestrar” o cadáver de Chaplin para pagar suas contas e dívidas.

O filme se passa na Suíça em 1977, ano da morte de Chaplin e conta a história de Osman Bricha (Roschdy Zem). Sua esposa Noor (Nadine Labaki) está internada e precisando de uma cirurgia, mas devido à condição financeira da família Osman, não tem condições de pagar pela cirurgia dela, e é aí que entra Eddy Ricaart (Benoît Poelvoorde), seu melhor amigo que sai da prisão no começo do filme. Eddy conta para Osman que Chaplin morreu alguns dias antes, e consegue convencê-lo de que, se roubarem o caixão de Chaplin, poderiam fazer o que quisessem com o dinheiro do resgate.

A atuação e a maneira como é desenvolvida a amizade de Eddy Ricaart e Osman são parte importante para o sucesso do filme. A história inicia com Eddy saindo da prisão e indo morar em um trailer no fundo da casa de Osman, mas sem nenhuma explicação de qual a relação entre os dois. Conforme o filme avança, nós entendemos cada vez mais o porquê da “amizade incondicional” que Osman tem por Eddy e simpatizamos cada vez mais com os personagens, principalmente com Eddy, que pode ser considerado o alivio cômico da história.

No final do filme estamos tão informados e envolvidos na vida dos dois que isso nos leva a relevar o fato de eles terem roubado um cadáver, nos fazendo torcer para que eles saiam ilesos dessa situação; e isso é amplificado imensamente em uma cena onde, após serem presos, o advogado dos dois faz um pequeno discurso sobre o por que eles não deveriam ser presos.

Outro ponto bem interessante é o modo como a relação entre Eddy, Osman e Samira (Séli Gmach), a jovem filha de Osman, é tratada de maneira natural, desenvolvendo muito bem a relação entre pai e filha e os sentimentos de Osman sobre a influência que Eddy causa em sua nela e que ela causa nele.

O filme tem algumas piadas que surgem a partir da completa loucura da situação, algumas devido a situações inusitadas, como por exemplo Eddy trabalhar como palhaço de circo, mas o que realmente faz o filme se destacar e em pontos até nos emocionar, é a maneira fantástica com que Xavier desenvolve seus personagens e os faz de certo modo crescerem como pessoas diante dos nossos olhos. E isso é algo não muito comum hoje em dia, uma comédia carregada por seus personagens e não pela situação na qual eles se encontram.

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